MEDO DE MORRER - Conto
Roger estava lá, parado no meio da ponte.
Observava o fim do dia.
À noite caiu e ele continuava no mesmo lugar. Abaixo dele, o rio corria e os barcos o acompanhavam. Puxou um cigarro do maço. Acendeu-o e deu uma longa tragada. Começou a tossir. Jogou o cigarro por sobre a murada. A ponta do cigarro brilhava em contraste com o rio escuro.
Após o que lhe pareceu uma eternidade, o pequeno ponto de luz tocou as águas e desapareceu. Roger sentiu uma pequena vertigem e desviou à vista para os carros que passavam indiferentes. Afinal, o que ele ainda fazia ali? O plano não era só chegar e saltar? Ele estava preparado para saltar, não estava? Ele veio do outro lado da cidade somente para assistir o pôr-do-sol? Bem, o sol já havia se ido há algum tempo. E o bilhete?
Sua esposa já devia ter visto o bilhete. Se ele não saltasse seria uma vergonha voltar para casa. Todo mundo saberia de sua fraqueza. O que o estava impedindo? Medo? Vergonha? Certamente o primeiro. Mas Roger não tinha medo de morrer. Ele tinha medo era de sofrer enquanto morria Achava que já havia sofrido demais nessa vida, para sentir mais dor agora, na morte. A idéia era quebrar o pescoço no choque com as águas do rio. Mas e se não desse certo e ele se afogasse?! Não lhe agradava a possibilidade de morrer enchendo os pulmões d’água. O que fazer? Claro, existe a hipótese de que na verdade ele ainda queira viver. Suicidas de verdade costumam se matar logo, não ficam tecendo reminiscências. Mas ele não via alternativas. Continuar vivendo seria masoquismo. Mas ainda assim ele tinha dúvidas.
Foi então que ele olhou para os céus e rezou, implorando por um sinal. Ele orou pela primeira vez em sua vida adulta e chorou pela última. E aconteceu. Uma pequena estrela, vinda de lugar algum, surgiu no horizonte. Roger começou a rir. Lágrimas de felicidade lhe brotaram do rosto sofrido. E a pequena estrela ficava maior e maior. E Roger renascia para si e para o mundo e tudo daria certo desta vez. Ele sussurrou um “obrigado, Senhor” e a estrela explodiu, banhando Roger e a cidade com luz, calor e radiação.
Novembro, 1989
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