CEMITÉRIO MALDITO - Crítica

HOLLYWOOD RESSUSCITA MAIS UM FILME DO ESCRITOR STEPHEN KING

Depois das novas adaptações de Carrie (2013) e It: A Coisa (2017), chegou a vez de tentar uma segunda produção de mais uma das obras do escritor Stephen King: O Cemitério.  Inspirado por acontecimentos reais na vida do escritor - King morou com a família perto de uma rodovia, o gato da filha pequena foi atropelado por um carro, o filho pequeno quase foi atropelado também e existia um cemitério de animais de estimação próximo a residência deles nesse local – e pelo apavorante conto clássico A Pata do Macaco (publicado em 1902) de W. W. Jacobs, O Cemitério se tornou um grande best-seller em 1983 e em seguida teve seus direitos adquiridos por uma produtora. O filme demorou um pouco para sair, mas em 1989 a diretora Mary Lambert o lançou. Aguardado com grande expectativa pelas fãs de King, inclusive por este que vos escreve e que tinha amado o livro, o filme foi uma decepção, com muitas cenas mal realizadas, um menino possuído que parecia apenas uma criança bonitinha fazendo cara de má... enfim, uma péssima adaptação para quem esperava uma direção mais forte e uma produção mais caprichada. Mas rendeu uma boa bilheteria na época graças ao nome de King nos créditos e ao clip dos Ramones com a canção Pet Sematary, que era tocada constantemente em qualquer rádio que tocasse rock na época.  Chegaram até a fazer O Cemitério Maldito II (1992), mas este o público realmente não gostou.

A curiosidade matou o gato. E pode matar mais além disso.

Mas como Hollywood adora dar segundas chances para filmes ruins, mesmo que seja 30 anos depois, chega às telas essa nova adaptação dos diretores Kevin Kölsch e Dennis Widmyer, cujo último longa, o drama de horror Starry Eyes (2014, não lançado no Brasil), até apresentava um argumento interessante sobre seitas satânicas e atrizes de Hollywood, mas a condução irregular da trama deixava a desejar. Mas se você é um fã do gênero, existe 50% de você gostar do filme. Eu sou fã de filmes de horror, mas não gostei. Eu sou um crítico chato.   

Uma produção barata se comparada com blockbusters, Cemitério Maldito custou U$ 21 milhões, mas já rendeu mais de 100 milhões nos cinemas. Isso significa duas coisas: vai ter continuação ou vão readaptar mais um Stephen King. Mas está dentro da faixa de orçamento dos filmes do gênero. Nós, de Jordan Peele, custou 20 milhões.

A incapacidade dos protagonistas de encararem a morte encontra eco com dezenas de produções infantilizadas onde os personagens principais sempre ressuscitam.

Não vou contar a sinopse e vou direto para o que interessa, pois se você está lendo essa crítica, já viu o trailer abaixo (se não viu, veja e volte) ou até mesmo já viu o filme. Bem, como eu dizia, o filme anterior dos diretores Kölsch e Widmyer não me empolgou muito, mas eles melhoraram significativamente sua técnica nos últimos cinco anos e agora eles apresentam enquadramentos melhores em colaboração com o fotógrafo Laurie Rose, assim como uma melhor direção de atores. 

O primeiro exemplo é a menina Jeté Laurence, que faz Ellie, a filha do casal. Crianças possuídas, quando  interpretadas por atrizes-mirins talentosas e bem dirigidas, sempre são assustadoras.  Já Jason Clarke (Exterminador do Futuro: Genysis) e Amy Seimetz (Loucas Noite com Emily) estão à altura da carga dramática da tragédia que se abate sobre seus personagens, o que é já é um grande ganho em comparação com a primeira adaptação, que tinha atores bem mais limitados e com pouca experiência como protagonistas. Quero dizer, ninguém aqui vai ganhar um Oscar, mas pelo menos o espectador mais empático vai poder se conectar com o sofrimento do casal. Atormentados por perdas passadas e presentes, cada um dos lados tem que lidar com a culpa insuportável que sentem por se acharem responsáveis pelas mortes de entes queridos. Tudo poderia ser tratado em um divã de terapia, mas essa família decidiu por morar no Maine, estado dos EUA onde tudo de ruim e sobrenatural acontece segundo os livros de King. Aparições, visões e pesadelos indicam que o pior está por vir e como o ser humano é uma criatura frágil, curiosa e inconformada, ela nunca resiste aos apelos do Mal nesses filmes.  E uma vez que o Mal irrompe em filmes de horror para adultos, o espectador nunca tem certeza se os protagonistas tem realmente a inteligência e a força para sobrepujar forças antigas e maléficas. E nesse ponto o filme acerta por optar por um final coerente e realista com aquilo que propõe.

Jeté Laurence consegue transmitir o horror que o filme pede.

Mas apesar de eu achar que o público em geral vai gostar do filme, ele talvez não empolgue muito quem já leu o livro ou viu a primeira adaptação de 1989, pois ambos meio que já entregaram tudo o que vai acontecer e não existiram surpresas no filme para mim, apenas algumas variações melhoradas do que já havia sido feito. E para quem não gosta de muito gore (sangue e tripas), não se preocupe, o filme não força a barra nesse sentido e se mantém dentro do bom gosto de apenas mostrar alguns tendões e miolos expostos. 

Crítica publicada originalmente em Central 42.