ANNA – O PERIGO TEM NOME (Anna, França, 2019) - Crítica

A metáfora com xadrez busca fazer o filme parecer mais inteligente do que é. 


Nikita reciclada

Anna – O Perigo tem Nome começa com um bom prólogo na antiga União Soviética de 1985 para logo pular para 1990, era pós-Perestroika (Abertura em russo, quando a URSS começou a abrir as portas para o capitalismo e toda a corrupção e criminalidade que veio junto). Já nesse ponto começam as semelhanças com Nikita (1991) que permeiam todo o filme. A diferença principal é a narrativa repleta de pequenas reviravoltas explicadas através de contínuos flashbacks durante todo o filme. Uma estrutura interessante e que funciona para não cair na mesmice de sempre e ajuda a manter o interesse na trama, mesmo que não haja grandes novidades.   

As coreografias de luta e tiroteios também são bem exploradas, sendo a melhor justamente a primeira, em um restaurante, onde ocorre o batismo de fogo de Nikit... opa, quero dizer, Anna (Sasha Luss). Aliás, sob essa questão do empoderamento feminino que Besson parece sempre colocar em seus filmes com mulheres assassinas  ou divinas, quase sempre elas são apresentadas em trajes sexys, com pouca roupa ou nenhuma. Ou seja, a fetichização do corpo feminino, para ele, é sempre tão importante quanto o empoderamento da mulher (empoderamento = assassinatos). Especialmente quando são modelos aspirantes a uma carreira de atriz. Scarlett Johansson, por exemplo, não passou por isso em Lucy (2014). 

Helen Mirren e Luke Evans são análogos russos aos personagens de Jeanne Moreau e Tchéky Kario em Nikita. Mirren tem a sorte de ter mais destaque do que Moureau e é o personagem mais interessante do filme. Ou talvez o único.


Mas com seu último filme, o diretor Luc Besson comprova que está passando por uma crise de criatividade. Afinal, seus dois últimos filmes simplesmente reciclam grandes sucessos seus da última década do século passado. Valerian e a Cidade dos Mil  Planetas (2017) buscava recuperar a requintada ação visual e quadrinística de O Quinto Elemento (1997). Apesar deste último não ser baseado em um quadrinho como Valerian, muito da inspiração veio dos quadrinhos fantásticos de Moebius. Já Anna parece querer recriar Nikita – Programada para Matar para novas plateias. E talvez consiga atingir uma parte do público que não viu Nikita ou quer apenas uma boa dose de ação.

Não haveria nada de mal nisso, ainda mais em se tratando do mesmo diretor, mas quando as novas criações são inferiores àquelas nas quais são inspiradas, talvez essa não seja uma boa estratégia. Seja do ponto de vista artístico ou financeiro, já que nem Besson dá mostras de inventividade nem os dois últimos filmes tem a bilheteria esperada.

A sequência do restaurante é o melhor momente de ação do filme.


Besson gosta de lançar e trabalhar com jovens atrizes e modelos no cinema. Isso não seria problema se Besson fosse um grande diretor de atores e soubesse extrair de suas modelos/atrizes grandes performances como alguns diretores já se provaram capazes. Mas Besson é um diretor visual e até prova em contrário, quase todas as protagonistas de seus filmes foram selecionadas muito mais por seus belos rostos e corpos esguios do que por seus dotes performáticos.

E justamente por insistir em ter modelos como protagonistas, ele prejudica também sua interação com outros atores. E diferente de Nikita, onde tinhamos personagens com relações interessantes e químicas que funcionavam, Anna não consegue fazer com que o espectador se importe muito com seus amigos, amantes, aliados ou até mesmo com ela. O que é bastante complicado quando o filme leva o nome da personagem protagonista.


Sasha Luss e Lera Abova interpretam um casal de lésbicas tão desinteressante quanto as relações héteros que Anna mantém com outros personagens.  


Considerado o mais hollywoodiano dos diretores franceses, esse rótulo em Luc Besson pode ser tanto um elogio como uma ofensa dependendo do tipo de filme que você gosta. Particularmente, gosto do domínio de câmera, edição e preocupação com cenas de ação do diretor, mas se ele tivesse unido esse estilo “americano” de fazer filmes com a densidade de personagens e diálogos realistas que o cinema francês oferece, ele poderia ser um diretor muito mais interessante que não precisaria se mostrar tão desesperado em agradar o mercado americano.





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