KURSK – A ÚLTIMA MISSÃO (The Command, Bélgica, Luxemburgo e França, 2018) - Crítica


A tragédia do orgulho e da incompetência

Em 2000, o submarino nuclear russo K-141 Kursk sofreu uma explosão e afundou no mar de Barents, causando a morte de 118 tripulantes. O filme é uma adaptação bastante livre sobre a tentativa de resgate dos sobreviventes que ficaram presos em uma seção do submarino.

Thomas Vinterberg é um diretor dinamarquês conhecido por filmes fora da curva, ousadia e conseguir extrair humanidade e verdade de seus atores. A Caça (2012, indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro) e A Comunidade (2016), sobre uma república de adultos nos anos 1970, são dois filmes que ilustram isso.  Mas Vinterberg anda fazendo um esforço em direção a um cinema dramático mais ao agrado do grande público como Longe Deste Insensato Mundo (2015), drama histórico com fortes tons pró-feminismo e  agora, este Kursk – A última Missão.


Boa parte das filmagens foram realizadas dentro de um submarino francês, remodelado para parecer com um russo.

Para quem viu a premiada minissérie Chernobyl (2019), é impossível não lembrar dela ao presenciar mais um acidente nuclear que pode envenenar o mar de Barents e assistir as autoridades russas autoritárias fazerem o possível para esconderem os fatos e mentirem descaradamente para a população russa e a imprensa mundial. Assim como a mini da HBO, os russos não vão gostar nem um pouco de como sua política de contenção de danos e censura foi retratada nesse filme.

O filme se desenvolve basicamente em três ações simultâneas: os marinheiros tentando se manter vivos em um submarino com pouco oxigênio e sendo inundado aos poucos; o embate dos militares russos entre os seus, contra a população e contra a ajuda estrangeira e o drama das esposas e familiares dos marinheiros. Se fosse um filme dirigido por um americano qualquer, essa última parte talvez se tornasse um amontoado de clichês melodramáticos, mas ao chamar a atriz Lea Seydoux (de Azul é a Cor mais Quente, 2013) para o aparentemente ingrato papel de impotente mãe grávida do segundo filho, Vinterberg acerta no tom ao colocá-la em confronto com diversos militares ao longo da narrativa. Aliás, uma marca interessante do filme é ter atores de diversas nacionalidades fazendo os papéis russos. Apenas um russo atua no filme e ele é a criança que faz o filho de Mikhail Averin, líder dos marinheiros interpretado pelo competente ator belga Matthias Schoenaerts (A Garota Dinamarquesa, 2015). 

Léa Seydoux garantindo ao espectador empatia com o sofrimento dos que aguardam notícias. 

Como disse acima, o filme é uma adaptação bem livre dos fatos, baseado no livro de não-ficção de Robert Moore, Time to Die. Robert Rodat, roteirista de O Resgate do Soldado Ryan (1998) e O Patriota (2000), escreveu o roteiro que critica bastante a atuação russa e que na primeira versão mostrava o recém-eleito presidente Putin a volta com uma crise que poderia evoluir para um novo Chernobyl. Apesar de ser retratado simpaticamente no roteiro, a produtora teve medo de uma retaliação russa aos moldes do que a Sony sofreu quando retratou o ditador norte-coreano Kim Jong-Um no filme A Entrevista (2014). Na época, a Sony foi atacada por hackers norte-coreanos, que tornaram públicos diversos documentos confidenciais da empresa e filmes inéditos. Como a Rússia também não é um país dos mais democráticos e com muitos hackers a disposição, a produtora optou por não arriscar.

Um filme com ação moderada, bastante suspense e intriga política, Kursk – A Última Missão deve agradar fãs de filmes de sobrevivência, de guerra e da mini Chernobyl.





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