MEDIDA PROVISÓRIA (Brasil, 2020) - Crítica
Sinopse
Em um Brasil ainda mais distópico do que o atual, um governo autoritário obriga todos os cidadãos negros a imigrarem para a África, criando o caos social e bolsões de resistência pelo país.
O diretor
Com 43 anos
(1978) e com grandes desempenhos elogiados e premiados como ator no, teatro, cinema
e TV, Lázaro Ramos aposta na direção para obter controle artístico sobre suas
ideias e propor boas histórias que gerem debates necessários.
O filme
Finalizado
em 2020, os produtores, além de já saberem que sofreriam para conseguir espaço
nos cinemas lotados de blockbusters americanos, amargaram o impacto que a
pandemia teve na indústria de entretenimento e tiveram que esperar um momento
mais oportuno para esse lançamento.
Mas o filme chegou e na linha de filmes afirmativos como Pantera Negra, Medida Provisória também é um filme com elenco majoritariamente negro e que fala sobre a cultura e a sociedade negra inserida em um Brasil cada vez mais escancaradamente racista. Racismo sempre foi uma crueldade rotineira de todo brasileiro negro neste país, mas com a campanha e a eleição de um presidente incensado por células neonazistas, casos explícitos de racismo por parte de autoridades do governo, polícia e civis preconceituosos se tornaram muito mais evidentes e invadiram as notícias diárias e a rotina de toda a sociedade que costumava permanecer alheia a tudo isso. A peça teatral Namíbia, Não!, escrita entre 2009-2011 por Aldri Anunciação recebeu em 2013 o Jabuti de Literatura de melhor ficção juvenil.
O fato de
ser baseado em um livro voltado para o público jovem explica em parte porque falta
ao filme um aprofundamento sobre considerações políticas, econômicas e de prejuízos
sobre a estrutura social que a expulsão de pelo menos metade da população
acarretaria para o país. Mas ainda que falte essa parte mais prática dos
efeitos de um futuro ainda dominado pela extrema-direita, sobra uma boa
construção de personagens interessantes e carismáticos como o trio de protagonistas
e os antagonistas que refletem o típico cidadão médio bolzonazista: branco, burro,
racista e corrupto.
Eu diria
que o futuro retratado no filme pega leve em comparação com a realidade brutal
do país (passada e presente), mas acredito que isso foi uma escolha do diretor para atingir o máximo
de pessoas possíveis e não sofrer alguma censura por conta de violência
excessiva. Por isso o foco fica mais na opressão econômica, emocional e mental
sobre os personagens, algo que na verdade é o que mais atinge a população negra
deste país todo dia, toda a vida.
O filme de
Lázaro também foca na resistência explícita e clandestina do povo negro contra
o governo, na dignidade destes brasileiros que quase sempre, defendem muito
mais os ideais e valores da nação do que moralistas de terno, que como sabemos,
quase sempre não passam de milicianos com cargo político.
Não sei se
o filme será um sucesso ou não. Pelo tema que aborda e pelo apelo popular das
cenas de humor, tensão e o debate que suscita, deveria. Na verdade, o filme tem
até potencial para se tornar uma série muito bem sucedida. Quem viver o fim
deste governo racista, verá.
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