MEDIDA PROVISÓRIA (Brasil, 2020) - Crítica

 Clique para ampliar.


Sinopse

Em um Brasil  ainda mais distópico do que o atual, um governo autoritário obriga todos os cidadãos negros a imigrarem para a África, criando o caos social e bolsões de resistência pelo país.

O advogado Antonio (Alfred Enoch), a médica-cirurgiã Capitu (Taís Araújo) e o jornalista blogueiro André (Seu Jorge). O roteiro foge do clichê nacional de retratar personagens negros com pouco estudo ou em profissões de baixa renda. 

O diretor

Com 43 anos (1978) e com grandes desempenhos elogiados e premiados como ator no, teatro, cinema e TV, Lázaro Ramos aposta na direção para obter controle artístico sobre suas ideias e propor boas histórias que gerem debates necessários.


Lázaro Ramos dirige Adriana Esteves, que dá a vida a Isabel, a funcionária publica racista do governo. Maus exemplos vindos de funcionários públicos reais não faltaram para inspirar a atriz.

O filme

Finalizado em 2020, os produtores, além de já saberem que sofreriam para conseguir espaço nos cinemas lotados de blockbusters americanos, amargaram o impacto que a pandemia teve na indústria de entretenimento e tiveram que esperar um momento mais oportuno para esse lançamento.

Mas o filme chegou e na linha de filmes afirmativos como Pantera Negra, Medida Provisória também é um filme com elenco majoritariamente negro e que fala sobre a cultura e a sociedade negra inserida em um Brasil cada vez mais escancaradamente racista. Racismo sempre foi uma crueldade rotineira de todo brasileiro negro neste país, mas com a campanha e a eleição de um presidente incensado por células neonazistas, casos explícitos de racismo por parte de autoridades do governo, polícia e civis preconceituosos se tornaram muito mais evidentes e invadiram as notícias diárias e a rotina de toda a sociedade que costumava permanecer alheia a tudo isso. A peça teatral Namíbia, Não!, escrita entre 2009-2011 por Aldri Anunciação recebeu em 2013 o Jabuti de Literatura de melhor ficção juvenil.


Já sob a mira do governo para serem expulsos do país e perderem a vida que construíram, Antonio e André precisam encarar cidadãos de bem que só querem o mal para os que não são como eles.

O fato de ser baseado em um livro voltado para o público jovem explica em parte porque falta ao filme um aprofundamento sobre considerações políticas, econômicas e de prejuízos sobre a estrutura social que a expulsão de pelo menos metade da população acarretaria para o país. Mas ainda que falte essa parte mais prática dos efeitos de um futuro ainda dominado pela extrema-direita, sobra uma boa construção de personagens interessantes e carismáticos como o trio de protagonistas e os antagonistas que refletem o típico cidadão médio bolzonazista: branco, burro, racista e corrupto.

Eu diria que o futuro retratado no filme pega leve em comparação com a realidade brutal do país (passada e presente), mas acredito que isso foi uma escolha do diretor para atingir o máximo de pessoas possíveis e não sofrer alguma censura por conta de violência excessiva. Por isso o foco fica mais na opressão econômica, emocional e mental sobre os personagens, algo que na verdade é o que mais atinge a população negra deste país todo dia, toda a vida.


Inteligente, politizado, bem-humorado e fragilizado pela violência do governo, o personagem de Seu Jorge tem alguns dos melhores momentos do filme.

O filme de Lázaro também foca na resistência explícita e clandestina do povo negro contra o governo, na dignidade destes brasileiros que quase sempre, defendem muito mais os ideais e valores da nação do que moralistas de terno, que como sabemos, quase sempre não passam de milicianos com cargo político.

Não sei se o filme será um sucesso ou não. Pelo tema que aborda e pelo apelo popular das cenas de humor, tensão e o debate que suscita, deveria. Na verdade, o filme tem até potencial para se tornar uma série muito bem sucedida. Quem viver o fim deste governo racista, verá.

 


Comentários

Postagens mais visitadas