ADÃO NEGRO (Black Adam, EUA, 2022) – Crítica
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Raios! Raios duplos!
Sinopse
5.000 anos após receber os poderes de deuses egípcios e aprisionado em seguida por conta de sua sede de vingança, Adão Negro é libertado.
O diretor
O espanhol Jaume-Collet Serra é responsável pelo sucesso de público A Orfã (2009), que aparentemente se deve ao fato da revelação final, já que o filme mesmo não é grandes coisas. Também fez vários filmes genéricos de ação com Liam Neeson, como Desconhecido (2011) e Sem Escalas (2014). O único que salva mesmo dessa parceira com o ator é Noite Sem Fim (2015). Um diretor sem muita criatividade, mas que geralmente sabe manter o ritmo de suas obras. Não é o caso em Adão Negro.
O filme
ATENÇÃO: SPOILERS!
Dwayne Johnson vinha sendo cotado para esse papel há muitos anos e sua aparição como Adão Negro havia sido cogitada para Shazam! (2019), mas devido a importância do personagem, Johnson convenceu o estúdio a deixar Adão ter seu próprio filme solo primeiro.
E depois do roteiro passar pela mão de três roteiristas, finalmente se chegou a um roteiro que nem merece ter o nome dos roteiristas citados. Os roteiristas, e talvez o diretor, aparentemente acharam por bem se inspirar em todos os filmes de supers dos últimos 20 anos e o resultado é uma colcha de retalhos de cenas semelhantes e clichês de todo tipo. Temos então aquele raio que atravessa da Terra ao céu (Os Vingadores, Esquadrão Suicida), o grupo em uma van no deserto que encontra um deus machucado e o leva para casa para cuidar dele (Thor), o jato que sai do pátio da mansão (X-Men), a câmera super lenta do Snyder (Watchmen), o vilão CGI sem carisma e mal feito (Liga da Justiça de Whedon), exército genérico em CGI que não oferece perigo nem mesmo para civis (essa eu acho que foram originais, geralmente exércitos de demônios são perigosos, mas aqui só servem para fazer piada). Sem falar, claro, no adolescente chato de 13 anos para nivelar o filme para a mentalidade do público alvo.
Não que eu esperasse algo muito criativo ou inteligente de um filme com Dwayne Johnson, mas torcia para algo minimamente empolgante, divertido e que não insultasse minha inteligência, mas a todo momento os personagens insistem em falar idiotices, cometer idiotices e planejar idiotices. Um exemplo de muitos: a nação de Kahndaq é dominada há mais de 20 anos pela Intergangue, uma milícia supertecnológica. Adrianna (Sarah Shahi) é procurada pela gangue e o filme nos dá a entender que ela é foragida, mas logo em seguida vemos que ela mora no próprio apartamento com seu filho sem ser importunada. Apartamento esse que tem diversas paredes e móveis destroçados em duas ocasiões sem que isso gere qualquer preocupação da parte dela ou dos vizinhos. Aliás, a falta de preocupação com as consequências dá o tom do filme para tudo, incluindo a reação dos personagens, dando ao espectador a impressão de que, como ninguém corre perigo de verdade, não há motivo para se importar com nada. E assim, Adão Negro e a Sociedade da Justiça podem destruir monumentos e prédios de um país pobre sem que ninguém se importe muito e ainda o aclamem como campeão da nação.
Dwayne Johnson encheu a boca nos últimos meses falando desse filme dizendo que ele mudaria paradigmas e inauguraria uma nova era nos filmes da DC. Talvez ele estivesse falando da violência brutal que foi cortada para o filme ter censura 13 anos nos EUA. Ou talvez ele se referisse também ao fato de que Adão Negro aparecendo, isso iria inaugurar uma nova era óbvia dentro do universo ficcional (mas não no universo cinematográfico). Boas mudanças em termos cinematográficos na DC já aconteceram esse ano, mas foram no Batman de Matt Reeves. Adão Negro é só mais do mesmo com poucos aspectos positivos.
E no momento, só posso citar três:
1)Seu personagem realmente utiliza bem seu poder de vôo e passa metade do filme usando-o de forma eficaz e inteligente.
2)Kahndaq é uma nação pobre no meio do Oriente Médio que só ganha atenção da Sociedade da Justiça (leia-se EUA) após a aparição de Adão Negro (leia-se arma de destruição em massa). A SJ é imediatamente cobrada pelos civis porque ignoraram a ditadura da Intergangue por décadas para só aparecerem agora. É divertido ver eles dizerem que talvez façam algo pela população, mas só o fazem porque a Intergangue dificulta a vida deles.
3)A cena pós-créditos.
Apesar disso, o primeiro ponto é meramente visual; o segundo, que poderia ser melhor explorado politicamente para o público mais adulto, acaba sendo mais apenas um breve comentário sobre o imperialismo americano e o terceiro...
Para finalizar, os personagens Senhor Destino (Pierce Brosnan no piloto automático) e Gavião Negro (o um tanto chato Aldis Hodge) repetem três vezes durante o filme: “Um plano ruim é melhor que plano nenhum.” Acredito que essa ideia pode ter partido dos produtores ou do diretor e que a frase original deve ter sido essa: “Um roteiro ruim é melhor que roteiro nenhum.”
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