BATEM À PORTA (Knock at the Cabin, EUA, 2023) - Crítica


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Um Shyamalan direto ao ponto

Sinopse

Em uma cabine longe de tudo, uma menina e seus pais são feitos reféns por estranhos armados com ideias bizarras sobre o apocalipse.

O diretor

Indiano criado nos Estados Unidos, já foi comparado com Alfred Hitchcock, dada sua predileção pelo suspense e pela sutileza com que costuma abordar seus personagens e a violência. Apesar de ter dois longas anteriores, foi somente com o impactante O Sexto Sentido (1999) e sua obra-prima Corpo Fechado (2000), que Shyamalan passou a ser incensado pela crítica e público, mas seu quinto filme, Sinais (2002), já apresentava claros sinais (trocadilho proposital) de que apesar de ótimo diretor, seus dons como roteirista não estava na mesma altura quando decidiu criar aliens que eram alérgicos a água, andavam pelados e que vinham para um planeta coberto de água e umidade em quase todo lugar. Daí em diante foi ladeira abaixo culminando com o inferno astral de Fim dos Tempos (2008), O Último Mestre do Ar (2010) e Depois da Terra (2013). Após, Shyamalan pareceu ter se recuperado com Fragmentado (2016), mas desde então tem tido altos e baixos, onde cada novo filme seu pode ser tanto uma boa surpresa quanto uma triste decepção.   

 


 No set de Batem à Porta.

O filme

Shyamalan começa e termina o filme da mesma forma. Indo direto ao ponto. Sem muitos rodeios, sem reviravolta. Existe um objetivo e esse é repetido à exaustão e dado como tão inevitável como boletos.

O diretor, como em alguns de seus últimos filmes, se refestela em sua zona de conforto, criar suspense com baixo orçamento, poucos cenários e com atores dando o seu melhor sob sua sensibilidade hitchcockiana.



O diretor chamou Dave Bautista (Guardiães da Galáxia) porque ficou impressionado com sua atuação em Blade Runner 2049 (2017). Bautista também atua em um dos curtas que precedem o filme de Villeneuve.

Baseado no best seller de Paul Tremblay, O Chalé no Fim do Mundo, Shyamalan explora novamente uma história que vai do micro ao macro, algo corrente em muitos de seus filmes. Algo que começa pequeno, localizado em um único local, com um ou poucos personagens, mas que até o final, se revela algo grandioso e potencialmente global. De posse desse material, o diretor contrapõe teorias da conspiração e fanatismo com lógica e realidade e ao se chegar em determinado ponto do filme, o espectador já não sabe mais em que acreditar. Mais ou menos como qualquer cidadão com capacidade cognitiva mediana diante de tanta loucura misturada com fatos a que é exposto diariamente na internet.  

Apesar da história interessante e curiosa, o roteiro dá umas escorregadas chatas quando coloca as vítimas em posição de vantagem e não se aproveita disso e também ao mostrar um casal gay assexuado. Sinceramente, não consigo recordar nenhum toque ou beijo entre os dois durante o filme todo. Se juntar isso ao fato de que o amor entre ambos é peça fundamental no filme, isso não ajuda o espectador a sentir empatia ou identificação pelos personagens e nem mesmo os flashbacks ajudam. E sem empatia, fica apenas a curiosidade sobre o que vai acontecer, mas sem o acompanhamento de fritas com emoção. 


 
Sobre as obras do autor do livro, Paul Tremblay, disse Stephen King, entusiasmado:
"Fiquei apavorado pra caralho." 

CUIDADO: REVIRAVOLTA COM SPOILER MORTAL

E como este Shyamalan foi muito direto desta vez, eu mesmo vou dar uma reviravolta nessa crítica e lembrar que em Fim dos Tempos, outro filme apocalíptico, as primeiras e últimas vítimas da natureza vingativa, eram casais LGBTs: o casal de lésbicaa no parque e o casal gay em Paris. Isso acendeu uma luzinha de suspeição na minha cabecinha e fiquei pensando se o diretor teria certos preconceitos. Mas depois desse não vi nada mais nesse sentido até esse filme, onde dois homossexuais que se amam precisam decidir qual deles irá morrer para salvar o mundo. E o detalhe é que um só pode ser morto pelo outro, senão a brincadeira não vale. 

E bem, no fim das contas o mundo sobrevive, a natureza (ou deus), decide poupar a humanidade porque um gay foi sacrificado/morto. Como se isso fosse algo realmente necessário. Fica um gostinho de Velho Testamento na boca, do tempo em que o velho psicopata Jeová matava indiscriminadamente e sem precisar explicar muito porquê. 



O primeiro tratamento do roteiro escrito por Steve Desmond e Michael Sherman foi eleito para a Lista Negra de 2019 como uma dos roteiros mais populares que não foram produzidos naquele ano. Aparentemente a reescrita de Shyamalan não o melhorou.


Não li o livro, mas acredito que deve ter mais nuances e detalhes que o filme apresenta, mas fica a dúvida se Shyamalan não escolheu levar essa história para as telas por conta de uma certa homofobia enrustida no diretor. Ou seria a relação entre morte de LGBTs e apocalipse nos dois filmes apenas uma coincidência?          


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