ROBINSON PEREIRA - Entrevista
Conheci o Robinson Pereira no final de 2008 através de e-mail. Acho que ele me achou através deste blog e falou que era escritor de livros de espionagem e me mandou um livro pra eu ler. SOUVENIR IRAQUIANO. Eu gostei e fiz uma crítica. Agora o Robinson está lançando mais um livro de espionagem que deve ser tão bom ou talvez até melhor do que o SOUVENIR. Mestre em Literatura pela UFSC, sua pesquisa na universidade foi exatamente sobre a possibilidade do gênero de espionagem dentro da literatura brasileira.
Agora, conheça um pouco mais desse escritor e de sua paixão literária...
De onde surgiu a vontade de ser escritor?
Acho que isso foi uma coisa muito natural em minha vida. Desde os oito anos que eu curtia muito fazer histórias em quadrinhos. Nunca me vi, ao longo de toda minha vida – e hoje tenho 42 anos – distante do ato de contar histórias. Sempre me encontro absorto, imaginando uma história.
Porque escrever SOUVENIR IRAQUIANO, um thriller de espionagem, em um país onde 99% dos escritores preocupam-se quase que exclusivamente com o lado psicológico ou social de suas personagens e narrativas?
Gosto do tema. Gostei bastante, quando garoto, de 007. Vi no cinema “O Espião que me Amava”, com o Roger Moore. Isso foi em 70 e pouco, não foi? Antes, era fã do Mickey, mas somente das histórias nas quais ele era detetive. O nome Ian Flemming me despertava muita curiosidade antes mesmo de ler ou ver qualquer coisa sobre James Bond, apenas de ouvir falar.
Com o tempo – e isso foi um pouco antes de começar a escrever o Souvenir, que aconteceu em 1999 – eu fui me incomodando com o fato de não haver um imaginário do gênero no Brasil. Ficava realmente incomodado com isso. Sempre ouvia falar de espião no Brasil de forma pejorativa – odeio o apelido “araponga”.
Em 1988, quando saí da Academia Militar das Agulhas Negras e decidi fazer Comunicação Social (queria ser publicitário porque achava que me levaria mais para perto de aprender a lidar com vídeo, roteiros, etc), comprei um livro do Nelson Lopes, um jornalista brasileiro especialista em indústria bélica brasileira nos anos 80 do século passado. O assunto me interessava, era filho de militar, ouvia muito falar de Urutu, Cascavel, Taurus, Astros, essas coisas. No livro vi que o Brasil não estava muito longe dos eixos das grandes tramas de espionagem internacionais.
Isso me deixou mais incomodado ainda. Tinha (tenho) a impressão de que há um preconceito com a ideia do brasileiro poder ser um 007, ser um forças especiais... Poxa, no Exército, vi que americanos, franceses e ingleses vinham treinar aqui um monte de técnicas de combate. Saquei que o preconceito não procedia. Pior ainda, saquei, analisando a nossa história, que o nosso SNI foi treinado pelo MI6 e pela CIA, e que os caras fizeram um serviço muito efetivo (sem julgamento), pois desmantelou a nossa esquerda. Ou seja, não dá para chamar os caras de “araponga” querendo debochar, se na verdade os caras saíram por cima.
Tenho receio de falar isso e parecer ser alguém de direita. Muito pelo contrário. Espionagem e repressão existe em qualquer lado, desde a Kriptéia da Grécia antiga até a KGB da União Soviética, na Guerra Fria, e os serviços que ocuparam o seu lugar no novo modelo de sociedade russa. Onde quero chegar é que não dá para tapar o sol com a peneira, sei lá por qual motivo, e dizer que não temos histórias ligadas à espionagem.
O meu livro A Fronteira, que está disponível para download no meu blog prova isso. É todo baseado em fatos reais. O Souvenir Iraquiano, de certa forma, também. Tenho um projeto de romance baseado em uma operação de espionagem deflagrada pelo Brasil no Suriname. Uma coisa real. Por que não escrever sobre isso?
Daí comecei a procurar escritores do gênero no Brasil, e entender melhor o gênero e por que ele não se disseminou em outros países que não os de cultura anglo-saxônica. Daí saiu meu mestrado.
A crítica e os leitores receberam bem seu livro? Ainda existe um certo preconceito contra literatura "escapista", mesmo que não seja o caso de SOUVENIR IRAQUIANO?
Que existe esse preconceito, existe. A crítica adora ouvir alguém dizer que não busca inspiração, para seus livros, em outro lugar que não seja a sua própria existência. Poxa, então quem é que vai dizer de quem é a melhor ou a mais importante existência? Quem pode dizer que a vida de fulano ou de beltrano é mais literária? Na verdade, quando você senta para escrever um romance de espionagem, ou um thriller qualquer, a sua única intenção é entreter o leitor. Para isso, é preciso suar bastante. Isso requer muita pesquisa e trabalho duro. Não se produz esse tipo de literatura com trabalho intuitivo.
É engraçado que o mercado editorial brasileiro se apoia muito em livros-verdade, auto ajuda, etc, e produz sucessos como Bruna Surfistinha. Só que eu pergunto: quem é capaz de provar que ela não era uma personagem apenas? Qual o problema em criar uma “Michelle Tentação” e vender como se fosse autobiográfico? Basta perder algumas semanas lendo contos eróticos na internet, aqueles que teoricamente são contados pelos leitores, para ter uma seleção no imaginário sexual médio e daí ousar um pouco e produzir uma nova personagem “real”, contratando uma atriz e mantendo a farsa em segredo. Mas a idéia não é exatamente essa, não é? Eu quero escrever spy fiction porque sei, através de pesquisa, que temos muitas histórias boas para contar.
Li que existem planos para um filme... Se existe, em que ponto está esse projeto?
Um roteirista e um produtor demonstraram interesse pelo livro, mas ainda está apenas no campo da conversa. Não há nada sólido.
Fale sobre suas obras anteriores:
Eu escrevi um romance beatnik chamado Diário de Um Intelectual à Deriva, um verdadeiro livro de bolso. Dá para encontrar exemplares novos em sebos on-line, para quem tiver curiosidade. Escrevi também o argumento do curta-metragem “Atraídos”, produzido em 35mm, com o Herson Capri e a Flávia Monteiro.
Algum novo projeto em andamento?
O romance A Fronteira, também de espionagem, está concluído e pode ser baixado no meu blog. É uma história que se passa na África, no início dos anos 1980, envolvendo guerrilhas africanas, a CIA, o Mossad e o SNI. É todo baseado em fatos reais. Eu poderia dizer que o livro trata de fatos que precederam o assassinato do jornalista brasileiro Alexander V. Baumgarten. Estou agora trabalhando agora em um romance de guerra e espionagem ambientado na Guerra das Malvinas e 20 anos depois. Tive apoio da nossa Marinha de Guerra para a pesquisa do livro. Devo concluir em alguns meses. O próximo trata de uma operação secreta do serviço de inteligência do Brasil no Suriname, que resultou em um incontrolável banho de sangue. Também baseado em fatos verídicos.
Lançamento no dia 20 de julho.
Faça o download do livro completo aqui.
Ou encomende direto com o autor através do e-mail: textosecreto@gmail.com
Faça o download do livro completo aqui.
Ou encomende direto com o autor através do e-mail: textosecreto@gmail.com
Qual a maior dificuldade, para você, em ser escritor? Emocional e financeiramente falando...
A dificuldade é encontrar espaço em um meio em que as traduções são mais valorizadas porque já chegam ao Brasil com todo o trabalho de marketing já feito. Os agentes literários e editoras não estão nem aí para os valores nacionais emergentes, simplesmente porque não querem correr riscos. Não é difícil escrever acima da média dos Best-sellers internacionais do gênero. O difícil é conseguir alguém que aposte e faça o trabalho de marketing para divulgar e vender o livro. Por isso os nomes que despontam em nossa literatura geralmente já são consagrados em outros setores, ou são extremamente oportunistas.
Se gostou da entrevista, não deixe de acompanhar o blog Texto Secreto.
Comentários
Obrigada, foi bom conhecer e vou acompanhar o blog do link *-*
Beijo ;*
bY>Angélyk
Brigada de comentr mew blog,,a propósito, ew o atualizei!kkkkk
bju
http://linkynangel.zip.net/
Beijocas, Jerri ;*
Abraços e sucesso.