REALIDADE E FANTASIA EM HARRY POTTER E CREPÚSCULO - Ensaio
Eu tenho uma mania que certas pessoas podem achar uma qualidade ou defeito que me faz pegar uma certa aversão por tudo o que é falado ou popular demais. Claro que, tratando-se de cinema ou literatura, geralmente vou dar uma olhada pessoalmente, com exceção de alguns casos que já sei perdidos só de ver o trailer, como NOSSO LAR, por exemplo. Nunca li HARRY POTTER, mas acredito que os livros devam ser divertidos de ler, apesar de ter achado, por exemplo, o primeiro filme, muito fraco e chatinho. Mas resolvi acompanhar a série no cinema e felizmente, depois de mais dois filmes sem muita expressão, a série deu um salto e consegui me divertir bastante com os três últimos, que são os que Voldemort aparece. A caracterização de Ralph Fiennes está excepcional. Mas acho difícil pegar os livros dele pra ler algum dia, não porque não ache que são divertidos e tal, mas é porque já passei um pouco dessa fase de ler livros pra crianças e adolescentes... Até porque já vi os filmes e eu sempre tive uma certa preguiça de ler livros depois de ver os filmes, mesmo sabendo que são muito superiores.
Mas o principal motivo pelo qual não tenho muito interesse em ler HARRRY POTTER é porque desde 1991 leio a série em quadrinhos chamada LIVROS DA MAGIA, onde Tim Hunter, um garoto de 11 anos, inglês, de óculos, com mãe morta e pai alcoólatra é procurado por 4 grandes magos que dizem a ele que ele será o mairo mago da Terra quando crescer e ele tem como companhia uma coruja. E mais adiante na série, ele é mandado para uma escola de magos... Soa familiar? Bem, muita gente falou que a J. K. Rowlings havia copíado a série do roteirista e escritor Neil Gaiman, mas apesar de muita gente ter insistido para Gaiman processar Rowlings, ele disse que a idéia dele também já era um misto de outros livros, filmes, lendas e que ela poderia ter usado as mesmas referências que ele pra criar o universo de Harry. E por isso nem fez questão de processo, até porque a versão dele sempre foi para adultos e a de Rowlings é para o público infanto-juvenil.
Mas Gaiman também escreve para o público infanto-juvenil e provavelmente muitos leram ou assistiram CORALINE. Em conversa com uma leitora adolescente, ela comentou que o filme era assustador demais para crianças e concordo com ela em parte. Fui assistir com minha sobrinha e ficamos assustados e emocionados em algumas cenas mais intensas, mas eu não acho que isso tenha traumatizado qualquer criança com botões... No máximo, algumas crianças pequenas tiveram pesadelos à noite e só. O que acontece, na minha opinião, é que já faz tantos anos que ocorre uma alienação do público infanto-juvenil através de filmes açucarados da Disney e similares onde o sofrimento sempre é superficial e a morte (ou mesmo o permanecer morto) sempre é evitada a qualquer custo. Por não entrar nessa onda de tirar o leitor para retardado é que Neil Gaiman é um autor que tem respeito da crítica e do público. Ainda bem que Henry Selick, o diretor do filme apostou no conceito original, pois muitos cedem a pressões do estúdio para deixarem seu filmes mais leves. Mas com O ESTRANHO MUNDO DE JACK no currículo, não deve ter sido difícil para ele convencer os executivos de que o filme poderia manter o clima de pesadelo do livro.
Mas antes de voltar a falar de HARRY POTTER e CREPÚSCULO, eu acho que seria interessante falar que esse dois filmes se inserem dentro do meu gênero literário favorito, que também se aplica a qualquer outra arte, como Cinema, Teatro e Artes Plásticas. O gênero a que me refiro é o gênero FANTÁSTICO (que contém os sub-gêneros Ficção-Científica, Fantasia e Horror). Na literatura existem mais correntes, como o Insólito e o Realismo Mágico, mas isso fica para outra hora. Bem, HARRY POTTER e CREPÚSCULO são filmes fantásticos, mas o primeiro situa-se no gênero da Fantasia e o segundo no de Horror. Claro que desde o século XIX que esses gêneros interagem um com o outro e é muito comum encontrar filmes, livros e gibis que misturam Ficção-Científica com Fantasia ou Fantasia com Horror. E mesmo com outros gêneros mais tradicionais, como o Romance ou a Comédia.
E esses sub-gêneros podem ser divididos em categorias conforme sua época. Por exemplo, a Fantasia Contemporânea e a Fantasia Clássica. A Fantasia Contemporânea busca uma aproximação maior com a realidade e por isso mesmo, verossimilhança (aquilo que parece verdadeiro ou lógico dentro daquilo que afirma/constrói). Já a Fantasia Clássica caracteriza-se por seu tom fabulesco e seu maior exemplo são exatamente fábulas como as de Chapéuzinho Vermelho. Nas fábulas, a realidade pode ser distorcida ou totalmente ignorada ao gosto do autor. O leitor/espectador entende do principio que a realidade não se aplica neste caso e acredita que um lobo pode comer uma pessoa inteira e a mesma ser retirada viva dentro do corpo do lobo horas depois. Já em O SENHOR DOS ANÉIS, uma Fantasia Contemporânea, o autor optou por deixá-la realista no sentido de que um personagem atacado por um monstro qualquer seria o equivalente a uma pessoa ser atacada por uma fera, ou seja, o personagem fica ferido ou morre. Mantém-se assim, o laço com a realidade e a verossimilhança daquilo que ele se propôs e qualquer fato contrário tem que ser (bem) explicado para não quebrar o pacto com o leitor/espectador. Acreditar ou não na explicação vai de acordo o leitor/espectador, mas argumentos lógicos e referências em obras anteriores ou na própria tem que ser usados pelo leitor/espectador para validar a explicação que o livro ou filme oferece.
HARRY POTTER assume um tom fabulesco ao tratar com magia, fadas e mitologia. Dessa forma, fica fácil acreditar que os tios dele continuem criando ele mesmo sabendo que ele é um bruxo, mas a autora procura não forçar a barra nesse ponto e essas sequências são curtas e a maior parte da narrativa dos livros/filmes de HARRY se passam na zona mágica ao redor de Hogwarts. O que facilita o desapego à realidade e a lógica de muitos acontecimentos.
Em HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO ocorre a primeira morte de um personagem importante.
Por coincidência, ele é interpretado por Robert Pattinson.
Por coincidência, ele é interpretado por Robert Pattinson.
CREPÚSCULO, por outro lado, utiliza elementos do Horror (vampiros e lobisomens) para criar um romance. Histórias de amor entre vampiros e mortais existem desde DRÁCULA e na verdade, em quase toda literatura de vampiro o amor romântico aparece em maior ou menor grau. No entanto, por se tratar de um gênero mais “realista” no sentido de que vida, sexo, violência e morte são conceitos freqüentes em narrativas de Horror, o contato com a realidade é muito mais intenso. Nesse sentido, vampiros sempre foram tratados como criaturas amorais, sedutoras e superiores ao homem em muitos aspectos. Mas que não deixavam de ser monstros justamente por matarem seres humanos para beberem seu sangue. Nesse canibalismo está o horror de ser vampiro.
Ao suprimir essa qualidade básica de seus vampiros-heróis, a autora despe o vampiro daquilo que faz dele o que ele é. Ao se alimentar somente do sangue de animais, ele se torna praticamente humano em seu comportamento, já que muita gente normal por aí come carne crua.
Uma outra questão fundamental do vampiro é que na sua origem popular e muito antiga ele é uma criatura amaldiçoada por Deus ou deuses, e por isso, é obrigado a viver nas trevas. O Sol serve como metáfora da luz de Deus, que afasta o Mal, demônios e vampiros. Como isso não acontece com os vampiros de Stephenie, isso implica que eles não são amaldiçoados por Deus ou nenhuma força do Bem, porque brilhar na luz do Sol não é lá uma grande maldição... Tem muita gente que participa da parada gay que adoraria brilhar no Sol.
E na tentativa forçada de inserir os vampiros numa realidade adolescente, a autora coloca vampiros velhos (mas com aparência de jovens) na escola, algo que não condiz com a lógica de ninguém minimamente inteligente, pois não conheço nenhum adulto em sã consciência que desejaria voltar a estudar com adolescentes ou crianças. Se eles apenas frequentassem os arredores da escola pra matar os adolescentes ou tivessem tara por adolescentes virgens, eu entenderia, mas frequentar aulas soa totalmente ilógico e burro, a não ser que fosse uma escola de monstros (o que nesse caso configuraria um tom fabulesco a narrativa e tornaria tudo mais aceitável).
Mas como Meyer manteve um forte elo com o mundo real e fornece uma explicação ilógica (a de que vampiros mentalmente maduros querem socializar com adolescentes imaturos) que não convence quando aplicada a realidade do mundo de Edward (e que supostamente é o nosso), resta a única explicação lógica que faz parte da realidade da maioria dos autores americanos infanto-juvenis: ela fez isso por dinheiro.
Acredito que ela deve ter pensado em como fazer um novo HARRY POTTER e ficar rica... Pensando nisso chegou aos vampiros. Fazer uma escola de vampiros seria uma versão meio descarada demais e então colocar vampiros numa escola normal foi a opção para que seus vampiros pudessem conviver com adolescentes, o público-alvo de seus livros.
Para mim essa é a verdadeira realidade de Meyer e de narrativas ilógicas criadas a partir do desejo de ganhar dinheiro eu quero distância.
Para finalizar, muitos filmes fantásticos possuem erros (intencionais ou não) e não respeitam a lógica de seus universos, mas é muito raro livros fazerem isso. Crepúsculo, infelizmente, é um desses.
Comentários
A magia é só um plano de fundo que a autora usou para falar de "coisas maiores" como, por exemplo, a amizade, o florescer dos sentimentos, a escolha entre o certo e o fácil (é interessante que ela trata o errado como o fácil - e se você para pra pensar, a coisa certa a se fazer, quase sempre, é a mais difícil) e, principalmente, a morte.
Na saga ela fala também sobre a relação entre o amor e morte com a magia (são duas coisas que a magia NÃO pode "dar um jeito").
E quando você diz que "muitos filmes fantásticos possuem erros (intencionais ou não) e não respeitam a lógica de seus universos" acredito eu que, não necessariamente seriam erros, mas formas diferentes que cada autor usou - dentro do "universo deles" - para retratar os seres.
E parabéns pelo post, você soube tratar, com delicadeza, temas tão "polêmicos", hahaha.
Bjs (:
Bem, eu e mais seis amigos começamos um blog de humor, e por considerar você um excelente humorista, gostaria que desse uma olhada lá depois:
www.movimentotenso.blogspot.com
(comente?)
E no meu blog pessoal, tem post novo.
Beijos e boa semana.
Jerri aconselho você a ler os livros, ele te prende e realmente vc quer cada vez mais ler, ler e ler até saber o desfecho final. O Livro Harry Potter e as reliquias da morte é sensacional onde eu realmente acho que nunca conseguiria escrever algo como ele.. eu ri, me emocionei, ri e realmente fiquei boquiaberta pensando como uma pessoa consegue escrever um livro desse?! Otimo Blog, Parabéns!!
ps: leio seus blogs sempre tanto no site da capricho quanto seu blog pessoal e cada vez mais adoro seus posts.. =)
eu adorei.
Parabéns!
que se tornam FANÁTICAS por algo que nem ao menos faz parte da realidade, e não adicionará nada no conhecimento de quem lê ou assisti.
Entrei no meu blog e vi o seu, fiquei curiosa, bem legal o úlitmo post.
No meu aos poucos estou aprendendo a escrever e é divertido..acabo deixando de lado para fazer os projetos..
Em relação as críticas se um dia for possível, quero tirar algumas dúvidas contigo..é um assunto mais delicado.Tenho outra opinião.
Bjs
Arq. Sandra
me inspiro no su jeito de escrever para fazer os meus posts, e apesar de não parecer, às vezes, leio seus blogs para ter idéias do que escrever...
abraaço, meu muso inspirador...!(anh?) kk'zooa -- Isabela Santana
PS- aparece lá no meu blog?? - pleease! - diz o que achou depois! - vaaleu!
me inspiro no su jeito de escrever para fazer os meus posts, e apesar de não parecer, às vezes, leio seus blogs para ter idéias do que escrever...
abraaço, meu muso inspirador...!(anh?) kk'zooa -- Isabela Santana
PS- aparece lá no meu blog?? - pleease! - diz o que achou depois! - vaaleu!
Muito bom seu blog! beijos
Enfim, concordo SUPER com quase TUDO que ta ai! Sério. Era uma viciada em Twilight, sério. Mas depois que se tornou modinha, milhões e milhões de pessoas e etc começaram a falar e começou toda aquela 'explosão' realmente pensei de novo e vi que a história tinha sido feita por dinheiro.
NADA faz sentido! Se você, que era ou é fã, vai pensar beeem direitinho e rever tudo depois que assistir a todos os filmes e os livros.
É até engraçado porque, na própria história da Meyer, coisas não coincidem e não fazem o MENOR sentido! tsc
Bem, sou fã de Drácula, HP(Filmes),e esse também é meu gênero favorito bate/
Bem Jerri, confesso que só compro a CH pra ler tua coluna e comentários (:
XX'
(Passa lá no meu, fala sobre celebridades e afins)
http://anahijuliana.blogspot.com/
Em nenhum momento a autora quis representar isso na saga.
O Edward só "transa" depois do casamento porque é uma personalidade do personagem. Quando Meyer pensou nessa questão, ela não quis representar um vampiro, e sim, ela quis representar o homem ideal, o homem perfeito que toda mulher sonha e que não existe.
Enfim, cada autor usa elementos para representar algo. Meyer não quis representar a vida dos vampiros e nem dos lobos, e sim, representar um amor puro e verdadeiro, que toda mulher sonha! Por isso ela escreveu e por isso Crepúsculo atrae tanto o público feminino.
Bom, eu não tenho muito tempo agora, vou p/ o curso. Mas é isso, não é a questão de vampiros e lobos, mas sim o que eles estão representando.
Os livros do Harry Potter(principalmente o último),me impressionaram muito,o livro te prende em continuar lendo.
Eu não conseguia parar de ler,realmente a Stephenie cometeu algumas "falhas" com a saga.
Abraços
bjs
ROBS*-*