CHARLES RANDOLPH - Entrevista

Na entrada da cerimônia do Oscar, quando receberia e estatueta pelo Melhor Roteiro Adaptado.

O roteirista

Ex-professor de filosofia, Charles Randolph desistiu da vida acadêmica para perseguir uma carreira como produtor e roteirista na competitiva indústria americana. E depois de conseguir ver nas telas alguns de seus roteiros nas mãos de bons diretores como Alan Parker (A Vida de David Gale, 2003) e Sidney Pollack (A Intérprete, 2005), Randolph encontrou um ótimo parceiro no diretor Adam McKay. Conhecido pelas ótimas comédias com o amigo Will Ferrell, McKay já havia abordado o assunto da crise financeira de 2008 na excelente comédia Os Outros Caras (2010). Juntos, ambos adaptaram o complexo livro de Michael Lewis (A Jogada do Século) em A Grande Aposta (2015), uma sofisticada comédia de humor negro sobre a pirâmide financeira que promoveu uma crise cujos impactos sofremos até hoje.  O roteiro de A Grande Aposta recebeu 20 prêmios de Melhor Roteiro Adaptado em festivais e associações cinematográficas, incluindo o Oscar. Atualmente Randolph trabalha no remake de Os 10 Mandamentos e e um western a ser dirigido por Martin Scorsese, St. Agnes' Stand.

A entrevista

Você escrevia antes de deixar de lecionar?

Bem, eu lecionei na Europa. Lecionei em Viena, na Áustria. Eu focava todo ano em vários formatos e estudos culturais. Certo ano eu me interessei por documentários e fiz alguns documentários educacionais para escolas, na verdade para a Procter & Gamble. Eram filmes sobre biologia. Basicamente educação sexual sob uma perspectiva biológica. Também fiz uma exibição em um museu.

Então eu fiz várias coisas como essa. E comecei a estudar longas e fiz algumas palestras em Los Angeles na USC sobre o estado de vários gêneros americanos. E também entrevistei vários escritores sobre esses gêneros todos e acabei conhecendo os irmãos Sperry e um de seus produtores me pediu para escrever algo para eles, algo que eles acabaram nunca pegando. Entrão foi uma daquelas coisas nas quais eu já estava interessado e por isso não foi uma transição artificial. E eu não feliz para onde minha área acadêmica estava indo. Em adição à isso, o prazer de sentar e criar algo é simplesmente fenomenal.


Steven Carrell e Ryan Gosling.
"O que admiro no filme e no livro de Michael é que o personagem Baum (Steven Carrell) tinha o potencial para extrapolar e colocar na tela o cara que era a própria doença que ele dizia poder curar (...)."


Como você foi parar no filme A Grande Aposta? Eu sei que o livro foi comprado pela Paramount e Adam McKay acabou embarcando dentro. Você estava no projeto antes de McKay?
 

Sim, eu estava. Acho que o livro ainda estava sendo escrito quando a Plan B (produtora de Brad Pitt) o comprou junto com a Paramount. A Paramount o comprou para a Plan B. Eles me ligaram e disseram: "Ei, temos um projeto. Nós adoramos o livro. É do Michael Lewis."

Eu já o tinha encontrado algumas vezes e disse: "Com certeza." Eu o li em 24 horas é é um livro fantástico por todas essas razões que você sabe e tantos outros também. O livro conseguiu explicar o que aconteceu em 2008 ao mesmo tempo em que apresentava esses personagens extraordinariamente engajados que nos faziam sentir que eles poderiam estar em um filme.

Eu pulei dentro e escrevi o roteiro, e o entreguei quatro, cinco meses depois. Trabalhei nele e então ele meio que travou. Acho que para a Paramount era um mundo terrivelmente abstrato e havia esses questionamentos sobre identificação.

Levou bastante tempo porquê nós tínhamos que descobrir um forma de ensinar os espectadores e ao mesmo tempo apresentar essas ideias de forma dramática. A sequência da Flórida não está no livro e eu meio que tive que escrever ela do nada, então eu comecei com algo que eu conhecia - coisas sobre hipotecas e corretores de imóveis, inquilinos e proprietários. Este filme é para as pessoas que não pertencem a área financeira, então, assim que acabei essas 8 páginas, eu entendi que aquilo era um ótimo tom divertido para colocar no resto do material. E então eu comecei a trabalhar nas coisas do livro. Fiz muita pesquisa. Fiquei sabendo dos 20 maiores hipotecários de Manhattan. Eu provavelmente conhecia dois ou três dele pessoalmente, por acaso, e eles me colocaram em contato com um monte de gente.

Eu não estava como o Michael, que escreveu quase logo após o acontecido, e por isso eu sentia esses personagens de uma forma mais distante. Mas foi fascinante descobrir que quase todas as pessoas com quem falei não tinham ideia do que elas estavam negociando. Você negocia informação, certo? Se você trabalha no banco, você basicamente usa o conhecimento que você tem sobre para onde o mercado está indo através da qualidade de produtos que você está criando ou vendendo. Então eles negociavam informação, mas poderia ter sido cotação do feijão - ninguém tinha um entendimento real do produto subjacente. No momento em que aconteceu, no momento em que eu percebi que Michael Lewis sabia cem vezes mais do que as pessoas que fazem milhões e milhões negociando essa coisas, me senti muito mais confiante no que iríamos fazer com o filme porque naquele ponto era assim: "Ok, estamos em uma posição confortável porque podemos jogar um monte de coisas nas pessoas." O que eu estava esperando era aquele tom onde tem tanta coisa vindo pra cima de você, e você não consegue absorver de jeito nenhum, mas ainda assim você consegue pegar a essência da coisa. Existe um certo tipo de prazer nisso. Eu estou enrolando um pouco, mas a Disney tem esse esquema em seus parques quando eles organizam um espetáculo, como um show de fogos, onde eles se asseguram em exaurir a capacidade dos visitantes de absorvê-lo. Você está imerso em um excesso de estímulos prazerosos, e é por aí que começamos, porque o filme conecta com uma bela metáfora para as pessoas que realmente estão nesse negócio. Eles não entendiam seu produto e eles não entendima o que estava acontecendo no mercado. Nós queríamos colocar o espectador naquela posição emocional de "O quê está acontecendo?"

  
Ryan Gosling e Adam McKay.

Sobre a colaboração com o diretor Adam McKay: "As coisas que eu sempre gostei, ele manteve. E algumas das coisas que eu estava em dúvida, essas foram as que ele alterou. Então eu percebi que compartilhávamos uma certa sensibilidade e sabia que ele realmente estava melhorando o roteiro. Ele me encontrou no meio do caminho."  
 

Quando Adam (McKay) finalmente recebeu o material e o leu... Ele havia lido o livro antes, adorado e feito uma conexão com ele. E quando ele pegou o roteiro, ele disse: "Eu quero filmá-lo."

Ele embarcou e fez algumas coisas que foram muito bem sacadas. Uma delas foi achar uma forma de quebrar a Quarta Parede e apresentar esses interstícios para pausar o filme e esclarecer alguns conceitos financeiros. E fazendo isso, sobrepôs isso nos outros meta artifícios, o que permitiu ao filme ter uma voz separada e diferenciada dos outros personagens, o que foi bastante agradável.   

Ficou com um sensação de quase documentário onde o diretor fala conosco e isso se torna o locus da nossa conexão emocional com o filme onde nós poderíamos fazer aquela coisa onde estamos torcendo pelos personagens mas então o filme meio que se volta contra eles e diz: "Espera um pouco. Você está torcendo por eles, mas não deveria."

Links

Os trechos desta entrevista foram selecionados dos seguintes sites (clique para ler as entrevistas originais na íntegra) :

Forbes

The Film Stage

Deadline


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