ADAM MCKAY - Diretor



Adam McKay (1968 - )não é aquele grande diretor que costuma concorrer a Oscars como Woody Allen ou tem uma legião de fãs fiéis como  Peter e Bobby Farrelly. Na verdade, só nesta década é que fui notar como o cara era bom e dominava a sua arte. E quando ele juntou a comédia besteirol com crítica político-social em OS OUTROS CARAS, ele simplesmente ascendeu ao nível dos grandes diretores do gênero. E a seguir deu um grande passo ao buscar a comédia dramática no excepcional A GRANDE APOSTA, filme sobre a crise americana de 2008 que derrubou economias no mundo inteiro e concorreu ao Oscar. Assunto do qual ele já havia começado a tratar em OS OUTROS CARAS.  Mas antes disso vieram várias ótimas comédias com seu parceiro de produtora (Gary Sanchez Productions) e ator-fetiche, Will Ferrell, com o qual trabalha há muitos anos e com quem co-escreve os roteiros da maioria de seus filmes.

Mas para entender melhor seus filmes e seu processo de trabalho, selecionei perguntas de entrevistas sobre filmes diferentes , pois nada melhor do que saber do próprio diretor.

Sobre OS OUTROS CARAS

Como o filme foi criado? O conceito de paródia veio primeiro? E Will Ferrell estava definitivamente envolvido?

Existe sempre um ponto onde você encontra aquilo que procura. No caso de O ÂNCORA: A LENDA DE RON BURGUNDY (2004), foi Will que assistiu uma entrevista com um âncora de TV dos anos 70 falando sobre como eles eram sexistas. E foi o tom de voz dele que Will adorou. Como RICK BOBBY - A TODA VELOCIDADE, foi o NASCAR, Bush, os estados caipiras da América. Mas com este filme, foi na verdade um jantar com Mark Wahlberg.

Nós saímos com ele e Will e Mark sentaram um ao lado do outro e Mark nos fez rir a noite toda. Ele é um ótimo cara, muito engraçado. E qundo eu fui embora eu disse "vocês dois tem que fazer um filme, essa foi uma das químicas mais interessantes e bizarras que eu já vi e ele (Mark) certamente sabe como jogar ."

Essa foi a gênesis do projeto, e somente por olhar eles e baseado no histórico de Mark, eu pensei, bem, deveria ser uma comédia de ação. Nós ainda não havíamos feito aquilo, e isso era muito empolgante.

E então eu tive esse ideia dos outros caras, os caras que ficam nas mesas ao lado dos superastros. E pra ser bem franco, foi só lá pela metade da coisa toda que eu percebi que nós estávamos fazendo um filme de parceria policial. Não nos passou pela cabeça porque, vamos encarar, de uma certa forma é um gênero quase morto.

Na verdade, eu diria que o único filme bom de parceria policial feito nos últimos 10 anos foi CHUMBO GROSSO. Não consigo lembrar de mais nenhum. Então, de repente a gente tava tipo, "Ah, meu Deus.
Estamos fazendo um filme de parceria policial," e nós estávamos tentando mesmo não fazer daquilo uma paródia. Mas, apenas pela qualidade de ser um filme de parceria policial, ele é uma paródia. É como fazer uma comédia que é um Western.

Imediatamente, é uma paródia, mesmo que nós estivéssemos fazendo tudo diferente, ou tentando mudar as coisas. Você sabe que tem que acertar determinados pontos e é assim que funciona. Logo a gente meio que sabia disso. Nós falamos, "Então tá, vai ser um filme de parceria policial. Vamos fazer o melhor pra fazer dele o mais original e engraçado que pudermos. Provavelmente vamos fracassar em alguns pontos, e nesses pontos vai ser uma paródia." Foi assim que começou.

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Sobre TUDO POR UM FURO

Como se desenvolve um roteiro desses?

Bom, foi sempre sobre aquela ideia.  Assim que se tem essa espinha dorsal, o tema principal, você constrói tudo ao redor disso. Assim que tivemos a ideia do canal de notícias 24 horas, nós soubemos, "O filme vai ser sobre isso." Então escrevemos um texto de 25 páginas que era um monte de merda que a gente queria ver no filme. Não precisa ter nada a ver com a história. Pode ser tão aleatória quanto uma canção romântica para um tubarão, vale qualquer coisa. A primeira de todas, Ferrell disse, "Eu acho que ele precisa tocar flauta de jazz." E nós... "Boa. Ele vai tocar flauta de jazz." E aí você tem esse monte de ideias amontoadas e quando acaba você vai e tenta aplicá-las no tema principal. Você examina o que cola e o que não cola. E às vezes você diz, "Foda-se! A gente vai colocar isso de qualquer jeito." E outras vezes... "Bem, não tem jeito de fazer isso funcionar." Tirando isso, você faz suas guias, faz o primeiro tratamento, que normalmente tem 160 páginas e é uma confusão só. Aí você ajeita aquilo e acaba com 120 páginas. A gente nunca para de reescrever. Você faz outra leitura de mesa, basicamente até começar a gravar, e você fica reescrevendo constantemente. A ideia é ter um roteiro tão forte que te permita improvisar porque você sabe que tem um bom roteiro. Então, junto com a improvisação, a pressão vai embora. Você não depende tanto dele.    

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Sobre A GRANDE APOSTA

Como você alterou seu estilo de comédias besteirol para A GRANDE APOSTA? Você trabalhou com o Diretor de Fotografia Barry Ackroyd nele, com uma estética câmera na mão e acompanhamento de personagens. Em uma conversa recente com Paul Thomas Anderson, você mencionou que comédia são gravadas tradicionalmente com planos estáveis, centrados nos atores, enquanto quem em A GRANDE APOSTA você conseguiu ótimas risadas com uma câmera que praticamente voava pelo ambiente.

Acho que toda história, todo filme, tem uma forma como necessita ser contado. Eu acredito que a forma serve a função. E no caso desta história, eu senti que ela era um história oposta à MARGIN CALL - O DIA ANTES DO FIM  e WALL STREET, que são mais sobre o lado do poder. Esta é mais sobre os caras nervosos, marcados pela pena e levados pela ansiedade que estavam na beirada de tudo. Por isso eu sempre soube que queria gravar esse filme num formato verité, meio que num estilo Costa-Gavras. Eu assisti vários filmes dele. E quando se começa a falar desse estilo visual, tem um nome que vem a frente de todos que é o Barry Ackroyd, uma dos melhores Diretores de Fotografia vivos. Nós não queríamos ficar presos num monte de planos médios parados de pessoas em celulares - nós queríamos estar dentro desses momentos, sentir a incerteza, a ansiedade e a empolgação desses caras.  

A parte que me surpreendeu foi que, normalmente, na comédia te dizem para manter o plano bem parado pra deixar o ator e as ideias criarem a comédia, e não o plano. E eu fiquei empolgado ao ver nesse filme que mesmo tendo essa estética verité, nós estávamos conseguindo boas risadas - o que me fez pensar que o público está se tornando rapidamente bastante sofisticado em relação a estéticas visuais. 

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