MOONAGE DAYDREAM (EUA / Alemanha, 2022) - Crítica


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O Homem que Caiu no Pop

Sinopse

Uma viagem cinematográfica e psicodélica que explora a jornada criativa de um dos maiores artistas da cultura pop: David Bowie.

O diretor

Brett Morgen nasceu em Los Angeles /California, em 1968. Documentarista desde 1996, um de seus últimos documentários também tratava de uma lenda do rock moderno, Kurt Cobain: Cobain: Montage of Heck (2015). 


Brett Morgen teve acesso total ao Acervo Bowie. Concedido pela família do artista, Morgen passou 4 anos pesquisando e editando material inédito jamais visto.


O filme

O cinema moldou boa parte da minha vida e de meus interesses desde meus 10 anos de idade. E um deles, claro, foi a música. Tirando fora a trilha de Grease (1978), todas as outras trilhas que me chamaram a atenção eram especialmente compostas para os filmes, como Star Wars (1977), Superman (1979) e Contatos Imediatos do 3º Grau (1978). Não por coincidência, todas de John Williams. E salvo raras exceções, poucas canções chamavam atenção em filmes. Mas o início dos anos 80 combinaram com minha adolescência, vídeo clips com estética cinematográfica, o filme A Marca da Pantera (1982), Fome de Viver (1983) e o lançamento do álbum Let’s Dance (1983), de David Bowie. O filme de Paul Schrader continha a poderosa canção de abertura Putting out Fire. Eu certamente já tinha escutado Bowie em alguma rádio nos anos 70, mas certamente ainda não estava preparado para aquele vozeirão grave até escutá-lo nesta refilmagem do clássico homônimo de 1942. Logo em seguida adquiri a trilha do filme e o álbum citado. E no mesmo ano que comprei o álbum assisti a sutil performance de Bowie contracenando  com Catherine Deneuve e Susan Sarandon.


Quando faleceu, Bowie era aquele tipo de roqueiro velho e querido que todo mundo amava.
Mas os clips e shows inciais de Bowie no filme de Morgen relembram o público que a forma como brincava com a percepção de gênero 50 anos atrás, diferente de hoje, era chocante para a época. No Brasil, a banda Secos & Molhados (com Ney Matogrosso) adotou seu estilo e irreverência em plena ditadura.

Virei mais um grande fã de sua obra. Sua morte, em 2016, deixou um vazio na música pop mundial que pouco mais de uma dezena de artistas musicais seriam capazes de igualar no século XX.

E de lá para cá, diversos documentários foram feitos sobre esse estranho rapaz de Brixton, Inglaterra, que com 22 anos causou um tsunami na cultura pop mundial. Mas ninguém ainda havia ousado criar um documentário que fizesse justiça ao camaleão do pop e seus métodos criativos.


O filme propõe diversas questões sobre a carreira do artista, colocadas por ele mesmo ou por clips de entrevistas da época. Da rebeldia provocadora dos anos 70 a uma suposta assimilação comercial nos anos 80, com direito a propaganda da Pepsi com Tina Turner. 

É sabido que Bowie muito se utilizou da técnica cut-up (recorte) de William Burroughs na composição de suas letras. Aparentemente o diretor Brett Morgen também utiliza-se dela, pois apesar do filme ter uma certa cronologia dos fatos da vida do artista, ela é frequentemente quebrada com inserções de falas, fotos e vídeos de Bowie em diversas fases da vida. Assim como os nacionais Sobre Sete Ondas Espumantes (2013), de Cacá Nazário e Bruno Polidoro sobre o escritor Caio Fernando Abreu e Olho Nu (2013), de Joel Pizzini sobre o músico Ney Matogrosso, Moonage Daydream foge completamente do documentário padrão e apresenta-se como uma experiência lisérgica, filosófica, emocional e lírica da vida do artista David Bowie. Sem depoimentos, fatos contextualizados, nomes ou datas, o espectador embarca numa jornada narrada pelo próprio Bowie. E assim acompanhamos a voz suave desse velho amigo de muitos anos pela sua vida e época em um caleidoscópio de cores, edição e música como poucas vezes tivemos a chance de assistir no cinema.




Vídeo clips bônus!





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