ETERNOS (Eternals, EUA, 2021) – Crítica


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A Marvel arrisca

Sinopse

Grupo de superhumanóides é enviado pelos criadores do universo para proteger a humanidade de criaturas monstruosas.



Com uma diretora politicamente consciente, o filme traz um elenco onde as personagens femininas tem mais relevância e tempo de tela. Gemma Chan como Sersi (a Minn-Erva de Capítã Marvel), ganha o arco mais completo na trama cósmica. 


A diretora

Ikarus/Richard Madden escuta com atenção as orientações de Zhao. No filme ele reencontra brevemente seu colega Kit Harrington, o saudoso Jon Snow de Game of Thrones. Com os irmãos Stark, a Marvel já conta com 11 aparições de atores da série da HBO em seus filmes.


Chloé Zhao é uma diretora chinesa radicada nos Estados Unidos cujo primeiro longa, Songs My Bother Taught Me (Canções que meu Irmão me ensinou), lançado em 2015, chamou a atenção da crítica. Atenção que se confirmou com seus dois filmes seguintes: Domando o Destino (The Rider, 2015) e Nomadland (2020), esse último lhe garantindo Oscar de Melhor Filme e Melhor Diretora daquele ano. Acostumada a trabalhar com filmes de baixo orçamento e personagens mais introvertidos, causou estranheza, portanto, Zhao ter aceito o convite da Marvel, estúdio conhecido por chamar diretores sem muita personalidade e restringir a criatividade dos mais ousados. Veremos em seguida se essa reunião deu certo ou não, mas antes um pouco sobre...  

Os quadrinhos


A arte de Kirby era tão poderosa que, 50 anos depois, continua influenciando o desenho de produção e figurinos do MCU. 

Inspirado pelo livro Eram Os Deuses Astronautas, Jack Kirby, a mente suprema criadora de muitos dos personagens da Marvel e até mesmo da DC, usou a teoria maluca e picareta de Erich Von Daniken de forma sábia e criou esse universo fascinante onde os deuses eram realmente criaturas vindas das estrelas e cujos nomes remetiam a antigos mitos e heróis da antiguidade. Devido a possíveis limitações literárias e eurocêntricas de Kirby, quase todos os nomes tinham origem greco-romana, é claro. Assim, Ikarus vem de ícaro, o jovem que queimou suas asas voando perto demais do Sol; Makkari vem de Mercúrio, o veloz mensageiro dos deuses do Olimpo; Ajak tem origem em Ajax, herói da Guerra de Troia e por aí vai.    

O filme


Um dos grandes trunfos de Zhao em Eternos foi ajudar a quebrar o padrão de filmes de ação onde mulheres com mais de 40 anos não servem mais para papéis relevantes. Angelina Jolie tinha 45 anos na época das filmagens.

Com o sucesso de público e críticas dos dois últimos filmes do Capitão América e dos Vingadores, dirigidos pelos super competentes irmãos Russo (uma grata surpresa vindos da ótima série Community) e de Thor:Ragnarok pelo criativo Taika Waititi, a Marvel repensou parcialmente sua estratégia de evitar diretores com visões criativas (Edgar Wright que o diga). Embora mantenha sua preferência por diretores com pouca filmografia e talvez por isso, ainda fáceis de negociar em questões de produção e estética. Algo que seria bem complicado de tentar com Christopher Nolan (a trilogia Batman) ou Zack Snyder (Homem de Aço, Liga da Justiça).



Quando recebeu o convite para participar de Eternos, Salma Hayek (Ajak), então com 54 anos, pensou em recusar, pois estava certa que faria apenas o papel de mãe de alguém.


E assim, temos a sensível Chloé Zhao dirigindo o filme mais ambicioso da Marvel deste ano, Eternos. Com uma trama que atravessa a criação do universo mas foca nos últimos 7 mil anos da história humana, o roteiro de Zhao, Patrick Burleigh e dos irmãos Firpo, tem deuses cósmicos, monstros, superhumanóides e um cataclisma/revelação que certamente irá direcionar a história do MCU tanto quanto a estalada de dedos de Thanos. Algo tão épico assim talvez até merecesse uma trilogia, mas por algum motivo foi decidido que 157 minutos bastariam. Não bastaram.



Com Zhao, o fotógrafo Ben Davis, que já fez outros quatro filmes para a Marvel, pode realizar seu melhor trabalho no MCU.

 

Quando você coloca um supergrupo com 10 novos personagens em cena, é diferente de fazer um filme solo para metade deles e aí juntá-los em um único filme como fizeram com Os Vingadores (2012). Ao apresentar 10 personagens novos em um único filme, fica claro que não vai existir tempo para desenvolver um arco satisfatório para todos ou para explorar suas personalidades e histórias. Isso acaba gerando falta de empatia/interesse com o destino de alguns personagens supostamente importantes. E apesar disso facilitar com que os roteiristas possam fazer piadinhas antes ou depois de anunciar suas mortes, não ajuda a levar muito a sério o destino deles.



Apesar da Marvel ter outros personagens ainda mais similares com o Homem de Aço, o Ikarus de Richard Madden é o primeiro exemplar do MCU até agora. E o roteiro não se furta de brincar com isso.


Dessa forma, vamos ter que esperar mais dois filmes (que devem vir) dos Eternos para torcer mais por eles e seu lugar no MCU. É claro que Zhao consegue deixar sua marca em alguns poucos momentos mais maduros com seus personagens e até mesmo consegue levá-los para longe da tela verde em belas locações e realizar um belo trabalho em parceria com o Diretor de Fotografia Ben Davis (Dr. Estranho). Aliás, outro mérito de Zhao foi trazer o elenco principal mais diverso até agora. Ao contrário do primeiro Vingadores, onde todo o grupo de heróis era composto de brancos cis héteros, em Eternos temos atores/personagens pretos, hispânicos, sul-coreanos, descendentes de chineses, de paquistaneses, LGBTs e até uma atriz PCD, a ótima Lauren Ridloff (The Walking Dead). E além de termos a primeira cena básica de sexo papai-mamãe do MCU, temos também o primeiro beijo gay para valer. Juntando a isso o fato do universo ser criado e conduzido por criaturas cósmicas denominadas Celestiais, o filme tem tudo para surtar a família tradicional brasileira e agradar quem vive no século XXI e curte ver que a Marvel está arriscando mais em seus filmes. Isso vai ocasionalmente levar a alguns filmes irregulares mas com bons momentos como Eternos, mas é o caminho certo para potenciais grandes obras no futuro.                


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