NÃO! NÃO OLHE! (Nope, EUA, 2022) - Crítica

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Da dificuldade de se fazer um horror cósmico

Sinopse

Os moradores de uma ravina no interior da Califórnia testemunham uma descoberta misteriosa e assustadora.

O diretor

Jordan Peele atua profissionalmente desde 2006 em séries, animações e filmes, mas quando lhe ofereceram literalmente o papel de merda em Emoji: O Filme (2017), ele se sentiu tão insultado que resolveu se dedicar a carreira de diretor e roteirista. E na verdade, no mesmo ano ele já estava lançando Corra, seu primeiro de três filmes que abraçam o gênero terror/ficção científica. Todos com comentários sociais e políticos e com boa recepção pela crítica, festivais e boa parte do público. Ativista como toda pessoa preta deveria ser, Peele dá preferência em seus filmes para um elenco majoritariamente com atores pretos como forma de compensação por tantos filmes com atores brancos. 


Jordan Peele disse que escreveu o roteiro "em um momento em que ele estava um pouco preocupado com o futuro do cinema. Então, a primeira coisa que soube é que tinha que criar um espetáculo, tinha que criar algo que o público tivesse que sair pra assistir."

 

O filme

No You Tube tem esse vídeo muito engraçado comparando como brancos e negros agem e reagem em filmes de terror. Jordan Peele procurou adotar esse mesmo sistema em seus filmes e além do primeiro personagem a morrer não ser negro e nem ser o único dessa etnia no elenco como na maioria das produções racistas dos estúdios, seus protagonistas afroamericanos também costumam ser mais espertos que a média dos brancos em filmes similares. O próprio título original brinca com essa ideia, pois NOPE é uma gíria para “De jeito nenhum” e que é dita pelos personagens que sabem que seria muita burrice encarar algo que pode te matar se você não estiver tão bem preparado quanto o Batman.



Ao final do filme, Emerald Haywood desliza sua moto em uma ação e enquadramento igual ao da animação Akira (1988). Esse é um dos filmes favoritos do diretor e lhe ofereceram a versão com atores para dirigir, mas ele recusou. 

Mas embora Peele seja um diretor cada vez mais competente e seguro em sua construção de ritmo e condução dos atores, seus roteiros todos começam com uma premissa original e instigante para no terceiro ato a lógica começar a falhar, seja nos rumos que o roteiro toma, quanto nas ações dos personagens. O mesmo acontece em Não! Não Olhe! Misto de filme de horror cósmico/criptozoologia/ficção científica, o filme acaba usando alguns clichês bobos como o título brasileiro explicíta: se você não olhar, nada vai acontecer. Pode apostar, amiguinho.  Como se um predador deixasse de comer sua presa porque ela não está olhando para ele... quando no mundo animal inteiro é justamente nesse momento que todos os predadores atacam.

 


O filme tem teorias interessantes sobre a criatura, mas a lógica logo mostra a falha no roteiro  em achar que tais criaturas existem mundo afora e nunca foram vistas e filmadas antes. Melhor imaginar que ela é filha única e veio do espaço mesmo.  


Embora tenha algumas boas sacadas como nos seus filmes anteriores,  a falta de lógica e senso comum na tomada de decisão dos personagens dificulta torcer por eles e embora eles realmente reajam com mais esperteza em determinados clichês do que a maioria dos brancos em filmes do gênero, Peele não consegue evitar as armadilhas do gênero. Alguns críticos disseram que ele estaria a brincar com esses clichês... talvez ele tenha sido sutil demais para mim nesse caso. Na minha humilde opinião, o filme teria funcionado melhor se o mistério não tivesse se revelado tanto no terceiro ato inteiro e talvez o deixasse só para os minutos finais. Do jeito que está, ficou quase um Jurassic World. E não, isso não é um elogio.      


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