OPPENHEIMER (EUA, 2023) – Crítica
Sinopse
Cinebiografia do físico J. Robert Oppenheimer e o seu papel no projeto Manhattan, que desenvolveu a bomba para “acabar com todas as guerras”.
O diretor
O britânico Christopher Nolan pode não ser Stanley Kubrick, mas ele é o cineasta que precisamos para contar épicos grandiosos que vão do micro ao macro, de conflitos emocionais até eventos que mudam o curso da humanidade. Desde Amnésia (2000), Nolan, que roteiriza seus filmes às vezes em parceira com o irmão Jonathan Nolan, vem deixando sua marca como um diretor que prima por uma estética a mais realista possível, mesmo em se tratando de filmes de super-heróis como Batman (2005, 2008, 2012) ou ficção científica como Interestelar (2014).
O filme
A onda reacionária e a doença da polarização política infantil com inspiração nazifascista que acomete o Brasil e muitos outros nos últimos 10 anos não tem nada de original. Nos anos 1950, a paranoica ditadura comunista de Stalin jogava cientistas e artistas suspeitos de conspirar contra o governo na Sibéria ou os executava. Já na democracia capitalista dos EUA, artistas e cientistas suspeitos de simpatizarem com o comunismo, podiam ser presos por algum tempo, tinham suas reputações destruídas pela mídia e eram impedidos de trabalhar em suas áreas. Os mais afortunados podiam se exilar em outros países para não desperdiçarem seus talentos como zeladores ou cozinheiros.
Oppenheimer, de Christopher Nolan, é mais um capítulo sórdido da história dos EUA enquanto fomentadores de destruição em escala genocida e perseguição política de cidadãos que ousam discordar do modo de guerra americano.
Narrado de forma não linear, com idas e vindas pelo passado e presente do personagem, acompanhamos um jovem Oppenheimer (o sempre carismático Cillian Murphy) assombrado com visões de um mundo subatômico: imagens maravilhosas criadas em estúdio com eletricidade, tinta e fotografia macroscópica aliadas a um som que penetra nos ossos se você assistir em um IMAX.
Ao mesmo tempo, vemos que algo se desenrola no seu futuro, Lewis Strauss (o magnífico Robert Downey Jr.). em passagens em preto e branco, testemunha contra Oppenheimer no Comitê de Investigação de Atividades AntiAmericanas. De volta ao passado, Oppenheimer cria relações com membros do partido comunista ao mesmo tempo em que se estabelece como um dos grandes físicos dos anos 30 e o governo americano coopta ele e outros grandes cientistas para criarem uma bomba atômica antes que cientistas nazistas o façam.
Grandes gênios das artes e ciências costumam ser figuras enigmáticas, um tanto subversivas, instrospectivas e com ego inflado, é uma característica típica da grande maioria. Oppenheimer não foge à regra e apesar de saberem do custo humano e político, ele e seus colegas não se furtam de criarem a arma do juízo final. A desculpa principal para criar algo tão terrível é a resposta lógica que não deixa espaço para alternativas: “ou nós fazemos ou os nazistas fazem”. Na série O Homem do Castelo Alto (Prime), baseada no livro de Philip K. Dick e produzida por Ridley Scott , pode-se ter uma noção do que aconteceria se os nazistas tivessem a bomba antes dos americanos.
Inspirado pelo livro ganhador do Pulitzer de 2006, Oppenheimer: o Triunfo e a Tragédia do Prometeu Americano, de Kai Bird and Martin J. Sherwin, essa ambiciosa cinebiografia de Nolan já era tida como um dos grandes filmes do ano e por 3 horas Nolan nos maravilha com o visual de Hoyte Van Hoytema, a vigorosa trilha de Ludwig Goransson e as grandes performances de Cillian Murphy, Robert Downey Jr., Gary Oldman, Emily Blunt, Matt Damon em um elenco estelar e afinado como poucos.
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