PROJETO GEMINI (Gemini Man, EUA, 2019) - Crítica

 Cartaz chinês do filme.


Um Assassino no Pedaço

Em Projeto Gemini, Will Smith e seu clone aprontam altas confusões.  No filme, Smith faz o papel duplo de Henry Brogan, um atirador de elite que, assim como aquele famoso mutante, é o melhor naquilo que faz. Mas além de ser o melhor no que faz, também tem ainda Junior, a versão mais nova Brogan, que é melhor ainda naquilo que faz.

Cansado de matar gente e achando que chegou ao seu ponto mais baixo após arriscar a vida de uma menina para matar um idoso, Brogan finalmente se dá conta de que matar é errado e faz mal para a alma (palavras dele, eu não escreveria algo tosco assim). Pena que o rapaz é meio lento de raciocínio e precisou matar 72 pessoas pra chegar a essa conclusão. Com diálogos bobos e sentimentalóides no melhor padrão novela da Globo/Record, mal dá pra acreditar que o roteiro do filme passou pela mão de diversos roteiristas desde meados dos anos 1990. Ou talvez seja por isso mesmo. O roteiro foi tão retocado que virou um amontoado de clichês vagabundos e diálogos toscos.


Efeitos digitais sem limites. Isso não é de deus. 



A grande dúvida é porque diabos Ang Lee, um diretor que já fez grandes filmes e até ganhou Oscars, resolveu fazer algo assim? Bom, o filme tem uma pegada de drama familiar bem xexelento, algo que ele trabalhou em Tempestade de Gelo (1997) e Hulk (2003). E tem também clonagem, um assunto que ele deve discutir em casa com a mulher Jane Lin, microbióloga. Ele disse que gosta muito do assunto e isso ajudou muito na época do Hulk. Deve ter ajudado alguma coisa aqui, mas não dá pra notar. 

Sobre a questão da clonagem, o roteiro se safa na questão de abordar o fato do clone ser real ou não. Como já se viu em A Ilha (2005) e outros filmes do gênero, sempre tinha um personagem que dizia que o clone “não era real”. Como se aquela criatura de carne e osso e vontade própria fosse um mero delírio. Um diálogo tão ilógico que faria Spock arrancar as orelhas. Pelo menos o clone é tratado e referenciado como sendo uma pessoa, um ser humano, que é o que ele de fato é. Agora, apesar de ter dado esse importante passo básico sobre o que é um clone, os roteiristas (entre eles David Benoff de Game of Thrones) ignoraram a psicologia e as influências ambientais que diferenciam um clone mais novo, criado de uma forma completamente diferente e com referências culturais distintas, do original mais velho. Os roteiristas se fixaram apenas na genética comportamental (algo que tem uma certa recorrência em gêmeos) e fizeram disso a matriz para ditar todas as interações entre Brogan e Junior. Nesse ponto eles entregam que não estão nem aí se isso faz sentido ou não, já que o público alvo deles são adolescentes de 13 anos.   


A ideia de replicar uma pessoa achando que seu clone vai sair igual só existe na cabeça cheia de maconha e falta de estudo dos roteiristas de Hollywood.


Por conta disso, a alienação política dos personagens, mesmo após saberem que a agência para onde trabalham é corrupta, é algo que passa batido. Eles simplesmente aceitam sem questionar que o vilão era apenas uma maçã podre no cesto. E por isso, decidem que continuar trabalhando para a agência é uma boa opção de vida e que nunca mais serão enganados a cometerem crimes novamente. Gado
demais.   

Mas se o roteiro é de chorar no cantinho, pelo menos as cenas de ação são caprichadas e conseguem envolver o espectador graças ao excelente 3D+ adicionado ao fato do filme ter sido gravado a 120 quadros por segundo. Aqui no Brasil, algumas salas especiais tem equipamento para apresentar o filme em 60 quadros por segundo. As demais, o filme pode ser visto nos 24 quadros convencionais. A fluidez e nitidez da imagem garantem ao filme uma estética cristalina que deve ser cada vez mais comum no futuro.


A sequência de tiroteios e perseguições em Cartagena (Colômbia) é um dos grandes momentos de ação do filme que fica muito bem em 3D+.


E falando no futuro de uma indústria cruel que descarta os mais velhos, especialmente mulheres, as novas tecnologias de captura de movimentos e mesmo rostos digitais, farão com que muitos atores e atrizes com mais de 50 anos tenham uma sobrevida maior do que as gerações anteriores.  Quem viver, verá. Ao contrário de Samuel L. Jackson, que foi rejuvenescido em Capitã Marvel (2019), Ang Lee optou por reconstruir o rosto de Smith através da captura de movimentos. A técnica funciona muito bem à noite ou com pouca luz, mas o Sol é inclemente com esse tipo de efeito e aí se notam alguns problemas. De qualquer forma, na sua maioria, as cenas onde Smith atua consigo mesmo são impressionantes.  Isso me fez pensar que se tivessem rejuvenescido Harrison Ford para o filme Solo (2018), ele teria grandes chances de ter sido um sucesso de bilheteria. Ainda não é tarde para evitar erros e chamar o ator de 70 anos para voltar com 35 anos no próximo filme de Indiana Jones. Compartilhe essa crítica até chegar no Spielberg.


   

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