NOITE PASSADA EM SOHO (Last Night in Soho, Inglaterra, 2021) - Crítica


Ótimo poster que emula a estética dos cartazes dos anos 1960.


Edgar Wright no Mundo dos Adultos

Sinopse

Uma jovem estudante de moda dos dias atuais é transportada para a Londres dos anos 60, onde, dentro do corpo de uma outra mulher, descobre um mundo tão fascinante quanto sombrio.



A maioria dos "efeitos" e trocas de personagens entre Anya Taylor-Joy e Thomasin McKenzie foram realizadas sem efeitos especiais, apenas com jogos de espelho e coreografias.


O diretor

Edgar Wright já se confirmou como um dos grandes talentos do novo cinema britânico do século 21. Com grande intimidade com a cultura pop e adepto da edição a serviço da narrativa, Wright tem nos entregue filmes espertos e divertidos como Todo Mundo Quase Morto (2004), Chumbo Grosso (2007), Scott Pilgrim Contra o Mundo (2010) e Em Ritmo de Fuga (2017). Sua versão de Homem-Formiga poderia ter sido um dos melhores filmes da Marvel ao invés de um dos mais insípidos, mas como ele mesmo disse:   “Eu queria fazer um filme da Marvel, mas acho que eles não queriam muito fazer um filme de Edgar Wright.”



Anya Taylor-Joy, Edgar Wright e Matt Smith analisam uma cena. Smith, em breve, deve virar um rosto mundialmente conhecido se a nova série baseada em Game Of Thrones, House of the Dragon, for bem sucedida como a original. 

O filme

CONTÉM SPOILERS!

Uma das características dos roteiros e filmes de Edgar Wright é o fato de que seus protagonistas são, ou jovens em jornada para o mundo adulto, ou adultos imaturos que precisam aprender a agir mais ou menos como se esperaria de alguém com mais de 30 ou 40 anos.  Noite Passada em Soho nos traz esse tipo de personagem na figura da deslocada Eloise (a ótima Thomasin Mackenzie, de Tempo), a jovem do interior que vai para Londres estudar em uma faculdade de moda. Mas diferente dos personagens de seus outros filmes, Eloise não irá cair em um mundo divertido, engraçado e com final feliz como nos outros filmes de Wright.



Em uma decisão acertada para sua carreira, McKenzie desistiu da continuação de Top Gun para estrelar um filme com muito mais possibilidades do que ser apenas uma menina bonita no fundo do cenário de um filme sobre aviação. 

Neste filme, o diretor procura sair da zona de conforto na qual estava tanto acostumado quanto havia acostumado seus fãs, e realiza seu filme mais denso e sério até o momento. Estaria Wright seguindo o caminho de seus personagens para tentar vir a ser um diretor respeitado e que vai tratar de temas mais sérios? Seu próximo filme será uma nova adaptação de O Sobrevivente, livro de Stephen King e que em 1987 já havia se tornado um filme bem fraco estrelado por Schwarzenegger. Pelo visto teremos alguma alegoria política nesse filme.



Diana Rigg, famosa na Inglaterra pela série de espionagem Os Vingadores (1965 - 1968) e por sua caracterização como Olenna Tyrell em Game Of Thrones (2011 - 2019), faleceu pouco após as filmagens. O filme é dedicado à ela.

Mas apesar de realizar um filme bastante diferente dos anteriores, Wright continua sendo o Tarantino britânico no que se refere a pesquisa musical e utilização de canções clássicas e modernas que ajudam a mover a trama ou até mesmo os personagens. Junto disso vem seu sempre criativo uso da edição e efeitos como forma estética/narrativa e que está lá não só para fazer brilhar o olho do espectador, mas como parte essencial do roteiro.



Esse é o primeiro filme de Wright a ter mulheres como protagonistas.


E como eu dizia, esse filme é mais denso por Wright tentar tratar temas como exploração da mulher na prostituição no mundo do entretenimento, mas embora o filme pareça estar indo nessa direção ao contrapor uma mulher sexualmente liberada dos anos 60 com uma dos anos 2020 que ainda está se descobrindo mulher, Wright e Krysty Wilson-Cairns, sua parceira de roteiro, parecem acabar não sabendo como resolver bem essas questões ao preferir dar ênfase mais a uma reviravolta forçada na trama que acaba colocando a culpa mais na vítima do que nos culpados de fato. Acho que as atrizes até se divertiram com essa inversão de papeis, mas na vida real as estatísticas de feminicídio no mundo mostram que é mil vezes mais fácil prostitutas morrerem nas mãos de clientes do que o contrário.           

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