LUKE CAGE (Marvel's Luke Cage, EUA, 2016) - Série
Herói a prova de balas. Já a série...
Atenção: esta crítica contém SPOILERS.
Sinopse
Luke Cage é um presidiário inocente, que após sofrer um experimento químico ilegal na prisão, desenvolve força sobre-humana e pele impenetrável. Após fugir da prisão, tenta viver incógnito no Harlem. Mas com amigos sendo mortos pela quadrilha que domina o bairro, Cage decide fazer justiça.
Até certo ponto é divertido ver Cage derrotando bandidos comuns, mas um herói sem desafios reais não é um herói.
O personagem
Luke Cage, junto com Pantera Negra e o Falcão, é um dos primeiros super-heróis negros da Marvel. Criado em 1972 por Archie Goodwin, John Romita e George Tuska, Cage teve uma carreira irregular ao longo de mais de 40 anos, mas teve grandes momentos como a série CAGE de Brian Azzarello e Richard Corben (leia a crítica aqui).
A versão de 1972 e a versão 2016 dos quadrinhos.
A série
LUKE CAGE é uma série do Netflix criada por Cheo Hodari Coker baseada nas histórias em quadrinhos do super-herói homônimo da Marvel. O personagem interpretado por Mike Colkter já havia feito ótimas aparições na série JESSICA JONES, o que garantiu uma boa expectativa do público quando a série foi anunciada.
Infelizmente, a série não atingiu o mesmo patamar narrativo de DEMOLIDOR e JESSICA JONES. Com sérios problemas no que tange ao desenvolvimento do personagem e das situações em que se envolve, o roteiro padece de um ritmo lento, desencontrado e com diálogos fracos.
O personagem Pops (sentado) é outro erro do filme. Mentor típico desse tipo de narrativa, participa pouco, morre logo e o espectador não se importa, por mais que o roteiro tente dar importância para ele.
Claro, a série consegue prender atenção nas sequências de ação, nas apresentações musicais (apesar do excesso delas) e para quem é fã e acompanha o universo cinematográfico da Marvel, toda referência é divertida. Os personagens também poderiam ser mais interessantes, se, como disse, houvesse maior tridimensionalidade neles e menos diálogos ruins saindo de suas bocas.
Mike Colter (Luke Cage), por exemplo, teve um grande impacto em JESSICA JONES, mas aqui, tendo que carregar o filme nas costas, revela uma certa limitação para aprofundar nuances do personagem.
Durante a série, por culpa da enrolação dos roteiristas, seu personagem está sempre migrando da indecisão para a ação e vice-versa, o que acaba irritando um pouco o espectador. César Soto, do G1, disse que o motivo da procrastinação para que Cage não acabasse logo com seus inimigos no filme é porque ele era poderoso demais e isso poderia ser feito logo no primeiro episódio. Assim, ficam arranjando motivos nada convincentes para que Cage não dê conta do recado rapidamente.
O personagem Shades (Theo Rossi), de óculos, é um capanga interessante, mas não chega a ser ameaçador e interessante como o assessor do Rei em Demolidor.
Com Cage brincando de Hamlet negro comendo pelas beiradas sem resolver as coisas, o mesmo tem que fazer os outros personagens, prejudicando todo o andamento do que poderia ser uma ótima série.
A série só começa a ficar boa lá pelo 6º episódio, quando Cage finalmente sofre um atentando que coloca sua vida em perigo. Mas para uma série que só tem 13 episódios, isso é bem chato. Com um novo elemento, as balas Judas, inseridas no contexto, Cage já não é mais tão invencível assim e isso é o que se espera de filmes de heróis, que eles enfrentem vilões que podem realmente matá-los. Se o herói não sofre perigo algum e não é uma comédia, qual é a graça?
Quando a pessoa não vai tratar de traumas infantis na terapia, acaba virando um vilão ressentido.
A segunda grande falha do roteiro é a motivação do vilão Diamondback ((Erik Laray Harvey), que se revela meio-irmão de Cage e que, aparentemente se tornou um gangster apenas para se vingar do irmão super-herói. Não tenho certeza se é bem isso pois não fica claro, mas quando Diamondback finalmente surge, todo o interesse dele em traficar armas se esvai pela sua sede de vingança pelo irmão, motivada porquê?
Por Cage ser o preferido do papai! A intenção dos roteiristas em dar uma motivação infantil dessas para um vilão adulto ameaçador saiu pela culatra. Ao invés de dar profundidade ao personagem, só o fez parecer ridículo. "Meu, vai fazer um ano de terapia que passa!" Mas enfim, o mesmo aconteceu com Loki em THOR e ele conseguiu superar isso em OS VINGADORES e também porque era Tom Hiddleston. Não sei se Diamondback terá essa sorte.
O melhor da série em termos de atuações acabam ficando por conta das mulheres com a presença recorrente da belíssima Rosario Dawson (como Claire Temple) e de Simone Missick (como a policial Misty Knight). Quando Misty leva aquele tiro no braço em um dos episódios finais, tenho certeza que todos os leitores torceram para que ele perdesse o membro. Ah, e também temos Sonia Braga interpetando a mãe mexicana de Claire, mas isso é apenas um mimo para nós, brasileiros. A série tenta falar um pouco de racismo, mas sem muito sucesso, pois ele é mais citado do que visto, já que 90% dos personagens principais são negros, incluindo políticos, policias e gangsters, sobram poucos representantes brancos para demonstrar o racismo do sistema.
Apesar do roteiro mais furado do que a camisa de Cage, Rosario Dawson e Simone Messick ajudam o espectador a manter o interesse em seus personagens.
Bem, agora é torcer para que a série PUNHO DE FERRO não cometa os erros de LUKE CAGE e se mantenha no nível de DEMOLIDOR e JESSICA JONES, criando vilões à altura do personagem e situações que realmente empurrem a trama para a frente e não para trás.
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