TENET (EUA, 2020) – Crítica

 

O futuro dá uma invertida na humanidade

Em Tenet, Christopher Nolan (também roteirista) realiza seu projeto de quase vinte anos, seis dos quais trabalhando no roteiro. Para muitos, Nolan é considerado como o herdeiro de Stanley Kubrick. Embora não possua o refinamento estético do diretor de 2001: Uma Odisseia no Espaço, todos esperam de Nolan a mesma obsessão e rigor com a qualidade da imagem e com a qualidade da produção. Seus filmes se tornaram eventos por si só, como eram também os filmes de Kubrick.

Michael Caine, sempre marcando presença nos filmes de Nolan, reveleou que mesmo sendo gramde amigo do diretor, só teve acesso à sua parte do roteiro e não tinha a menor ideia sobre o que era o filme.


Por conta da pandemia, o filme foi tido pelos executivos de Hollywood e proprietários de cadeias de cinema como o filme que traria as pessoas de volta aos cinemas em plena pandemia. Mas o filme acabou tendo sua data de estreia adiada algumas vezes. A Disney/Marvel, por exemplo, simplesmente desistiu de lançar qualquer filme de super-herói em 2020.  Com um custo de 205 milhões de dólares, o maior orçamento de um filme com um negro como ator principal (obrigado Pantera Negra e Chadwick Boseman), era esperado que o filme arrecadasse 50 milhões no primeiro fim-de-semana em cartaz, mas o filme fez apenas 9 milhões. A maioria das pessoas preferiu não arriscar. O filme estreia agora no Brasil com a pandemia ainda em curso. Veremos o que acontece por aqui. Se o filme fracassar por aqui também, é bem provável que haja um relançamento dele no ano que vem. Sendo a experiência cinematográfica que é, Tenet merece.   


O palíndromo que deu origem ao título vem da antiguidade. O exemplar mais antigo foi encontrado nas ruínas de Pompéia e tem mais de 2.000 anos. Os outros nomes inscritos na rocha também são usados no filme. Repare que TENET pode ser lido inclusive de baixo para cima/de cima para baixo.


Já na primeira cena, Nolan nos joga em meio a um atentado terrorista em uma ópera em Kiev, Rússia. A ação, com uma coreografia precisa e contando com a edição dinâmica e impecável de Jennifer Lame, é tensa e imediatamente já cria empatia com o Protagonista (John David Washington, filho de Denzel, que você viu no ótimo Infiltrado na Klan). Antes que ache que estou escrevendo protagonista em caixa alta por engano, aviso que essa é a alcunha pela qual o personagem de Washington é chamado no filme. Ele, assim como a maioria dos personagens principais, não tem uma história pregressa. Nada de família, tragédias pessoais ou pequenos dramas. Tudo o que existe para eles é a missão de impedir que pessoas do futuro (e pessoas à serviço delas)  destruam a humanidade. Se você achou que tem algo estranho no raciocínio dessa última sentença, achou corretamente. Mas o filme trata do paradoxo do avô e realidades paralelas, então não cabe estender esses conceitos aqui. Aproveite-os no filme. Por conta disso e locomovendo-se entre presente, passado e futuro (ás vezes em várias versões no mesmo tempo), os próprios personagens parecem presos em uma Faixa temporal de Möbius, sem ter muita certeza onde tudo realmente começa ou acaba. 


John David Washington herdou o talento do pai.

Na tentativa de não perder o público com conceitos científicos e filosóficos em meio a cenas de ação tão empolgantes quanto bizarras e confusas, Nolan joga na trama uma bela mãe (Elizabeth Dinicki) abusada e chantageada pelo marido psicopata e traficante de armas (Kenneth Brannagh em ótima forma). É claro que o Protagonista cria um interesse (forçado) pela mulher do vilão e se vê na obrigação de ajudá-la e salvá-la em diversos momentos. Algo que em muitos momentos parece completamente desnecessário para o andamento da trama, mas sem isso, as motivações dos personagens e a narrativa temporal complexa e complicada de entender faria a grande maioria do público não ter absolutamente nada com o que se identificar. Aí está mais uma diferença entre Kubrick e Nolan: as concessões que o último faz.

            
Robert Pattinson consegue estabelecer uma ótima parceria com Washington e a química entre os atores produz ótimos momentos no filme.
                        

“Não tente entender. Apenas sinta.” Recomenda a cientista para o Protagonista . Certamente esse é o conselho que o diretor Christopher Nolan dá para o público. Se tentar entender, vai dar nó na cabeça e se for um leitor de ficção científica ou alguém com conhecimentos avançados de física, vai dar nó na cabeça também, mas vai perceber algumas coisas que aparentemente não fazem muito sentido. Mas se você se deixar levar, vai ter 150 min de muita ação ao melhor estilo 007 e muita explicação ao melhor estilo Nolan.

“Não tente entender. Apenas sinta.” ou em bom português "Aceita que dói menos."


Notas sobre o filme

O filme utiliza apenas 280 efeitos especiais, isso é quase nada para um filme desse porte, onde o normal seria dez vezes mais.

Ao saber que os efeitos digitais sairiam mais caro do que a coisa real, Nolan pediu que a produção comprasse um Boeing 747 e explodisse ele contra um hangar de verdade. Parte dessa cena está no trailer. 


Se tivesse filmado durante a pandemia, a produção conseguiria comprar Boeings com muito desconto. 

Muitas cenas de inversão não foram feitas na sala de edição, mas pelos próprios atores e dublês, que ensaiaram movimentos e lutas invertidas, assim como tiveram que aprender a falar ao contrário.


Washington tem histórico de atleta de verdade (não engana no apoio como certos políticos), mas disse que depois das filmagens ficou um mês sem querer sair da cama. 

Desde Batman Begins (2005), esta é a primeira trilha sonora de um filme de Nolan sem a presença de Hans Zimmer. O compositor optou por fazer a trilha de Duna.   

Pego de surpresa pela pandemia durante a pós-produção, o compositor Ludwig Göransson (Pantera Negra) mal pode gravar com a orquestra e precisou mixar 80% da trilha usando as gravações separadas que os músicos enviavam de casa ou do estúdio. 

Para mais curiosidades, confira o MAKING OF legendado aqui no blog. 


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