O PESO DO TALENTO (THE UNBEARABLE WEIGHT OF MASSIVE TALENT, EUA, 2022) - Crítica

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Nicolas Cage apronta altas confusões na melhor comédia de ação do ano

Sinopse

Cheio de dívidas e com a carreira em decadência, Nick Cage aceita participar da festa de aniversário de um milionário espanhol para pagar seu aluguel. No entanto, seu fã não é o que parece e Nick acaba sendo obrigado a espioná-lo para a CIA.


"Eu não tinha interesse em me interpretar em um filme. Mas então recebi uma bela carta de Tom e li seu roteiro. O primeiro ato me assustou muito, mas quando cheguei nos atos 2 e 3, pensei... Tom está nos levando numa aventura que é muito interessante."

O diretor

Tom Gormican só tem em seu currículo o bromance Namoro ou Liberdade (2014) e roteiros da série Ghosted (2017), que só teve uma temporada. Apesar da pouca relevância artística de seus trabalhos anteriores, o roteiro de O Peso do Talento, em parceria com Kevin Etten, foi selecionado como dos 10 melhores roteiros não-produzidos em Hollywood de 2019.


"Queríamos deixar claro que não estavámos, de forma alguma, debochando de Nicolas Cage. O filme seria uma homenagem a sua filmografia, e assim como seu trabalho se espalhou por diverosos gêneros, assim seria nosso filme.

O filme

É claro que após entrar para essa lista e depois de 4 tentativas (a última sendo o roteiro acompanhado de uma carta) com o ator Nicolas Cage, Tom Gormican conseguiu finalmente convencer Cage a participar do projeto.Para quem é fã de Nicolas Cage, ou tem muita simpatia pelo ator como eu, O Peso do Talento traz o Nicolas Cage real fazendo um Nick Cage ficcional baseado no Nicolas Cage real e que tem uma relação conflituosa com outro alter ego ficcional mais jovem de Nicolas Cage que usa o figurino de Sailor Ripley, seu personagem em Coração Selvagem, de David Lynch.


O conflito do ator "xamânico" com seu lado astro de Hollywood é uma das ótimas sacadas do filme.

Cage já havia interpretado um personagem real em outro filme metalinguístico anos atrás: Adaptação (2002), onde fazia o papel do roteirista Charlie Kaufman e de seu irmão gêmeo fictício, Donald Kaufman. Apesar de não possuir a mesma sutileza e inteligência do roteiro de Kaufman, o roteiro de Gormican e Etten é esperto no humor, nas boas sacadas, no deboche à indústria e na homenagem a um ator que está há mais de 40 anos divertindo plateias do mundo inteiro.


Nick Cage (que protagonizou Motqueiro Fantasma) e Javi (Pedro Pascal, protagonista de O Mandaloriano) lamentam os rumos que o cinema atual está tomando, dominado por filmes da Marvel e Star Wars.

Um dos pontos centrais do filme é que Nick Cage não é exatamente o cidadão Nicolas Cage e talvez por isso mesmo ele pareça mais contido do que se esperava para esse papel, mas essa escolha ajuda a identificar melhor quando, por motivos diversos, ele decide ou precisa se tornar o ator Nicolas Cage. No filme, seu personagem, como muitos atores, é preocupado, além das questões financeiras, em voltar a ser respeitado por seus pares e a ser aclamado por seu público. Essa necessidade de ser aceito, ironicamente, tanto o distancia da família quanto o aproxima de seu fã milionário.


Nicolas Cage achava que Javi era o personagem mais bem escrito do filme. Tanto que chegou a pedir para trocar de papeis, pois achou que interpretar seu próprio fã seria ainda mais metalinguístico do que fazer a si mesmo. Mas ele desistiu quando Pedro Pascal foi selecionado. Mas não deixa de ser uma daquelas grandes ideias que, infelizmente, não puderam ser aproveitadas.

E o grande trunfo dessa comédia de ação é, além de conseguir com que Cage e Pascal possam trabalhar nuances psicológicas interessantes de seus personagens com graça e ternura, é que ela também brinca com os clichês da Hollywood dos anos 90, época que Cage era rei. Não que muita coisa tenha mudado em termos de clichês deste gênero, mas combinados com um roteiro original que certamente será indicado ao Oscar, Tom Gormican certamente conseguiu seu intento de nos fazer gostar ainda mais de Nicolas Cage.      


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