NAPOLEÃO (Napoleon, EUA, 2023) – Crítica

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Sinopse

O filme começa com Napoleão já como um militar respeitado e mostra sua ascensão extraordinária e brutal ao império francês, vista através do prisma de seu relacionamento polêmico com sua esposa Josefine.

O diretor

Ridley Scott, junto com Christopher Nolan e Dennis Villeneuve, faz parte da santísssima trindade cinematográfica capaz de realizar épicos magníficos com realismo, pompa e grandiosidade que grandes personagens históricos ou fictícios merecem. Diretor de grande sucessos e filmes de cult como Alien (1979), Blade Runner (1982) e Gladiador (2000). Embora tenha tido uma fase ruim com filmes pouco inspirados como Robin Hood (2010), Prometheus (2012) e Êxodo: Deuses e Reis (2014), Scott tem se recuperado desde Perdido em Marte (2015).


Scott acerta detalhes com Phoenix no set.
É o segundo trabalho de ambos juntos e em ambas Phoenix interpreta um imperador. No primeiro ele foi Commodus em Gladiador.

O filme

A arte de dirigir épicos é um equilíbrio delicado entre precisão histórica e narrativa cinematográfica. Exige que o diretor não apenas tenha um conhecimento profundo do período de tempo e dos personagens que está retratando, mas também a habilidade de dar vida a esses personagens na tela.  Essa disputa entre acuracidade histórica e entretenimento é sempre complicada e quase sempre o entretenimento vence.


Todas as batalhas tem um impacto visual estarrecedor. E a melhor delas é contra os russos.
Onze câmeras foram usadas em cada uma das batalhas.

Napoleão Bonaparte é uma figura histórica que já foi retratada em diversos filmes, cada um com sua interpretação do personagem. Da figura heróica do filme mudo Napoleão (1927), de Abel Gance  ao implacável ditador do filme Waterloo (1970), de Sergei Bondarchuk, a representação cinematográfica de Napoleão variou muito. Até Monty Python brincou com o personagem em Aventureiros do Tempo (1981).  Ao examinar essas representações, é essencial compará-las e contrastá-las com a personalidade real de Napoleão. Por exemplo, em Napoleão, de Gance, o diretor retratou Napoleão como uma figura heróica destinada à grandeza. No entanto, na realidade, Napoleão era conhecido pelas suas táticas implacáveis e pelo seu desejo de poder. 


Sobre críticas por conta de modificações históricas, Sir (ele é Sir) Ridley Scott galantemente disse: “Vá cuidar da sua vida.” E também acrescentou: “Quando algum historiador quer discutir, eu pergunto: Com licença, amigo, você estava lá? Não? Então cala a boca.”

E em Napoleão de Ridley Scott ele continua uma figura sedenta por poder, mas desta vez o roteiro adiciona componentes psicológicos importantes,  como uma certa devoção exagerada com sua mãe, a qual acha necessário provar seu valor mandando lembranças de guerra.  Além disso, Scott se concentrou nos pequenos momentos da vida de Napoleão, em especial seu relacionamento com sua esposa Josefine para dar ao filme uma abordagem mais humanística. Ao fazer isso, Scott foi capaz de criar um retrato mais colorido (ou cinzento) e complexo de Napoleão. A relação de ambos, hoje em dia, certamente seria considerada tóxica.

Em um gesto que se tornou emblemático, durante a cerimônia que o consagraria imperador da França, Napoleão retirou a coroa que receberia do Papa Pio VII e a colocou sobre sua própria cabeça, simbolizando que seu poder não estava submetido ao da Igreja. E na sequência, na cabeça de sua amada Josefine.

Além disso, o estilo de direção de Scott em Napoleão é semelhante ao de seus outros filmes épicos, no sentido de que ele se concentra na jornada do personagem, e não na precisão histórica dos eventos, como é bastante comum em qualquer produção hollywoodiana. A interpretação de Joaquin Phoenix novamente o coloca como um dos grandes atores americanos vivos, embora não se compare com sua performance como Commodus ou Coringa. Mas seu Napoleão é complexo e muito diferente da forma que outros atores o interpretaram e junto com a brutalidade ele também consegue entregar até mesmo momentos divertidos.  Junto dele, claro, temos  também o desempenho sutil e elegante de Vanessa Kirby (The Crown) como a ambígua Josefine.

Napoleão pode até não ser o melhor filme de Scott e nem do ano, mas certamente vai deixar seus admiradores contentes com mais um grande épico feito com competência,  estilo e inteligência.



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