JESUS E JAVÉ – OS NOMES DIVINOS

Michelangelo – detalhe de “A Criação dos Céus” (1508 -12)


O Autor

Teórico e ensaísta literário, Harold Bloom é um dos maiores intelectuais e críticos literários em atividade. Autor de mais de 27 livros sobre literatura, Bloom leciona Humanidades na Yale University e Inglês na New York University.



O Livro

Neste extraordinário ensaio literário sobre a Tanak (Velho Testamento Judeu) e o Novo Testamento cristão, Bloom se debruça sobre as figuras literárias e históricas de Jesus e Javé (pronuncia-se Iavé), dois símbolos religiosos que pouco tem em comum, de acordo com o autor.

Ao longo do livro, Bloom traça a biografia de Javé, o deus temperamental, inseguro, carente e violento que forja uma aliança com a tribo judaica e exige deles amor incondicional em troca de proteção e bênçãos. Nas palavras do próprio dirigindo-se a Abraão: “E abençoarei os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem (...)”. Fica clara a diferença de Javé com o deus proclamado pelo cristianismo, onde supostamente, todos somos amados por Deus, e não apenas a tribo de Abraão.

O pedido de Javé para que Abraão sacrificasse seu filho para provar seu amor por ele, se aplicado à realidade, demonstraria claramente uma relação abusiva com um psicopata manipulador.


O claro desaparecimento de Javé no Novo Testamento também não deixa de ser um proposital erro de continuidade, visto que no Velho Testamento, Javé é um deus ativo, que visita profetas em suas casas, fala com outros tantos e desempenha os mais diversos tipos de milagres, muitos dos quais, envolvendo massacres de centenas de pessoas, sempre favorecendo a tribo de Judá.

Já no Novo Testamento, Javé é um deus ausente e nem com Jesus ele conversa e nenhum milagre realiza de sua parte. A Antiga Aliança, feita com Abraão, já não mais existe. De acordo com a Igreja Católica, o que agora existe é uma Nova Aliança, aquela que supostamente abrangeria toda a humanidade.

Interessante notar que a partir desta Nova Aliança declarada pelos recém-nascidos cristãos, deus nunca mais se manifestou como se manifestava o Javé dos judeus no Velho Testamento.

Apesar da suposta nova aliança com a humanidade, Javé, que no Velho Testamento interferia diretamente nos rumos da sociedade e nas vidas das pessoas, desapareceu para nunca mais ser visto.


Bloom arrisca dizer, em um certo trecho, que Javé auto-exilou-se no espaço sideral, abandonando a raça humana a própria sorte, o que seria uma explicação razoável, caso ele realmente existisse.

Uma outra comparação muito interessante que Bloom faz entre o Judaísmo e o Catolicismo é o fato de que no Judaísmo, existe apenas Javé e que no Catolicismo existem Deus, o Espírito Santo e Jesus Cristo (fórmula criada pelo Concílio de Nicéia em 325 D.C. para tentar explicar que as três entidades eram uma só. Explicação até hoje contestada por muita gente). Mas além da Santíssima Trindade os católicos podem orar e pedir milagres diretameten para a Virgem Maria e toda uma infinidade de santos especializados nas mais diversas causas. Mais ou menos como funcionava nas antigas religiões pagãs (gregas, egípcias) e como funciona na religião hindu. Percebendo isso, constata-se facilmente que o Judaísmo é uma religião monoteísta (que acredita em apenas uma divindade) e que o Cristianismo se transformou numa religião politeísta (crença em várias divindades). Isso em nada implica no fato de uma dessas religiões ser melhor ou pior do que a outra, assim como a hinduísmo também não é. É apenas um fato curioso sobre o qual pouca gente pensa e claro, que a Igreja Católica jamais vai admitir.

Mas ao mesmo tempo em que revela as incongruências e absurdos de ambos os livros sagrados, Bloom, judeu não-praticante, considera que Javé é por demais importante para ser ironizado, respeitando a importância histórica de tudo o que foi feito de bom e de ruim em nome dele.


No Brasil, o avanço das religiões neopentecostais na política utilizando táticas e discursos medievais em seus templos está causando retrocessos na cultura e na sociedade.


Não temos como saber se a humanidade estaria melhor ou pior se alguém ou um grupo de pessoas não tivesse criado Javé e Cristo para controlar e apaziguar as massas, mas nos últimos séculos, com o advento da ciência e da liberdade religiosa e de expressão, pode-se dizer que existe uma certa confusão da sociedade em relação ao que ou em quem acreditar e com isso, numa tentativa embrutecida de recusar pensar e discutir sobre o assunto de modo mais profundo, muitos grupos decidiram por tentar retornar a um fundamentalismo arcaico, onde negam a Ciência e até mesmo, as liberdades pelas quais tantos sacrificaram suas vidas para que hoje em dia pudéssemos falar numa mesa de bar que não acreditamos em Deus ou que não gostamos do Lula, sem corrermos o risco de irmos para a fogueira ou para a prisão.

Trecho

“Na condição de crítico, aprendi a confiar na advertência que introduz o primeiro volume dos Ensaios de Emerson – não existe história, apenas biografia – bem como na percepção emersoniana de que nossas preces são enfermidades da vontade, e nossas crenças, enfermidades do intelecto. O Novo Testamento é mito e fé; não se trata de relato factual, e os escritos de Josefo, desde logo indignos de confiança, ainda foram falsificados por autores cristãos. Jesus carece tanto de história quando de biografia, e não temos como saber quais dos seus ditos são autênticos. Para quem aceita a Encarnação, nada disso importa. Afinal, o judaísmo é igualmente incerto: terá o Êxodo, de fato ocorrido? Os milagres de Cristo, à semelhança dos de Javé, só convencem os convertidos.”

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Boa leitura.

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Comentários

Rosi Rabelo disse…
Gostei do livro. Acho muito interessante discutir esse tipo de assunto, mas é praticamente impossível. Mesmo com toda a liberdade que temos de acreditar no que quisermos, há pessoas que me apedrejariam se dissesse algo do tipo.
Ah, obrigada pela visita no blog, volte sempre. ;)
Beeijos.
Mylla disse…
o livro deve ser legal!
mas falar sobre religião é muito complicado... todo mundo acha que a sua é a melhor e a briga pode durar dias...
bj jerri
Unknown disse…
bla, blab,la..ah poxa jerri, odeio post compridos..e eu gosto mesmo eh de livro de humor =)..indica um aii..P-L-E-A-S-E

to ja aproveitando deixo selinhos no meu blog para vc =)
ta..ok, sei q vc vai demorar para ir la ver, enfim esta o link
http://cotiday.blogspot.com
Atalaias Urbanos disse…
hum vc me fez considerar a possibilidade de ler um tipo de livro diferente dos q leio...
Geralmente gosto de algo do tipo Pedro Bandeira...
Mas gostei da dica e vou ler...

Adorei o blog
Bjo
Maria disse…
Não costumo ler esse tipo de livros,pq não falo muito de religião...
mas seu blog é ótimo!!!!Adorei!!
Dá uma passadinha no meu ,ok?(www.comemorativa.blogspot.com)
e se der vira seguidor,please!!pois comecei meu blog um tempinho e não tenho muitos seguidores (só 4)...
bjss Jerri!!
Ana BŁøve disse…
Oi, o livro parece ser bom, mas eu não curto muito sobre religião, não...

Acho que nós deveríamos ter fé no que acreditamos e deixar de chorar pelos cantos.

Bejos *-*
Anônimo disse…
I'm a girl, Jerri.
A n i n h a a disse…
apesar de eu não gostar muito de assuntos relacionados a religião (um tema contradiz o outro e no final vira uma confusão), o livro parece ser interessante.

beijos :*
Ems disse…
oooooooi! Gostei bastante do seu blog, escreve muito realmente bem. hihi (: Estou te seguindo, se quiser... segue o meu :D

www.280197.blogspot.com

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