A3 QUADRINHOS – Comics
O Projeto
A3 QUADRINHOS é uma revista dedicada a quadrinhos do gênero Fantástico (FC, Fantasia e Horror). Financiada pelo Fundo Municipal de Cultura de Uberlândia/MG e editada por Matheus Moura, a revista é mais uma das inúmeras tentativas de promover o Quadrinho Nacional. Matheus Moura é mais um desses idealistas necessários que, num mercado dominado pelo quadrinho americano, tenta divulgar seu trabalho e o de seus colegas de todo o Brasil.
De acordo com o editorial, a revista só tem dois números financiados, sendo que os restantes, caso vejam as tintas da gráfica, serão financiados por outros meios. A grande maioria das tentativas editorias de se publicar quadrinho exclusivamente brasileiro não dura muitas edições, mas vamos torcer para que A3 não siga o mesmo destino.
A revista tem 110 páginas de quadrinhos coloridos, PB e meio tom, exibindo uma grande variedade de estilos artísticos de artistas nacionais dos anos 80 ao século XXI, além de narrativas que vão desde homenagens a H. P Lovecraft até ataques de eco-terroristas. Alguns dos ilustradores, como Mateus Santolouco e Walter Pax, já vêm publicando trabalhos no exterior há algum tempo.
Por ser uma revista financiada com dinheiro público, Matheus Moura optou por vender a revista a um preço bem acessível, apenas R$ 3,50.
Se você curte ou quer conhecer uma amostra do Quadrinho Fantástico Nacional, mande um e-mail para: revistaa3@gmail.com ou acesse o blog REVISTA A3 QUADRINHOS
para saber mais sobre o projeto, onde encontrar e sobre o lançamento do número 2, do qual eu participo com a história MÁQUINA FANTASMA, ilustrada por Walter Pax.
A Revista
Como a maioria das revistas do gênero, a A3 QUADRINHOS congrega roteiristas de diversos estilos e gêneros. Alguns com pouco tempo de estrada no ramo, outros há décadas tentando viver o sonho. E é na sua variedade de narrativas e traços que a A3 QUADRINHOS revela sua força e sua fragilidade.
CRASH TEST, a HQ que abre a revista, tem roteiro de Ric Milk e arte de Marcelo Cabral. Não há história propriamente dita, apenas um situação de perseguição à uma andróide. Para quem já viu BLADE RUNNER e o 5º ELEMENTO, ambos com visual baseado nos quadrinhos do francês Moebius (Jean Giraud), fica fácil reconhecer de onde vem todo o visual futurista do traço clean de Cabral. Uma clara homenagem aos filmes citados e a Moebius, uma pena que ela fique apenas nas belas imagens, já que o roteiro é apenas uma mistura de situações dos 2 filmes e com um final incipiente.
Em A PRAGA, uma mulher desperta com seu corpo mutilado e se encontra num porão repleto de gente morta ao estilo do filme OLHOS FAMINTOS. Embora não pareça remeter a nada sobrenatural como o filme, o roteiro de Bruno Bispo com o traço original de Victor Freundt, consegue transmitir o desespero da personagem, que como o leitor, ignora como e porque foi parar em tal situação. As fotos dispostas ao longo da HQ, antes de apenas explicar de forma não-linear de onde veio a personagem, ajuda a humanizá-la, criando no leitor empatia suficiente para que ele se importe com seu destino.
O veterano E. C. Nickel escreve, desenha e pinta KAVAN, onde um astronauta solitário tem sérios problemas cada vez que um dos tripulantes desperta de seu sono criogênico. A narrativa não tem nada que já não tenha sido lido em outras HQs ou filmes e a linguagem visual (disposição dos quadrinhos e enquadramentos) de Nickel se mostra bastante datada. A impressão é de que se está lendo uma HQ do início dos anos 80. Mas isso é um problema comum com muitos artistas. Eles se apegam a um método de contar histórias e ficam presos à ela. Acontece até com estrelas da Marvel e DC. O que se salva é a aplicação competente de cores.
DEUS, de Roberval Coelho, é sobre um guerreiro motivado pela perda do seu amor que empreende uma luta contra tudo e contra todos para matar Deus. Com uma arte estilo super-heróico, mas com traços ainda imaturos, a HQ de Coelho só reproduz clichês de outras histórias sobre Deus e o Diabo. Ela continua na próxima edição, mas do jeito que acaba, nem precisaria.
O OLHO DE CTHULHU inspira-se livremente na mitologia criada pelo escritor H. P. Lovecraft, muito provavelmente o melhor autor de Horror do século XX. Matheus Moura e Walter Pax escrevem um roteiro com personagens demais e situações que não se encaixam muito bem e cujo único elo de ligação são os Antigos. Apesar de não empolgar conter a atmosfera apavorante das obras de Lovecraft, as estranhas e belas ilustrações de Pax reproduzem parte do tom épico da obra do falecido autor.
A história mais politizada e realista da revista é O.R.L.A.: OPERAÇÃO, onde um grupo de eco-terroristas invadem uma laboratório de testes de animais para libertá-los. Nem tudo sai do jeito esperado... Com um roteiro estilo hollywood (no bom sentido) de Matheus Moura, mas com excesso de diálogos (talvez por causa da importância do tema), a HQ consegue prender o interesse do leitor. O traço limpo e dinâmico do ilustrador Caio Majado se ajusta bem a narrativa criada por Moura.
BETWEEN THE SHADOWS (Entre as Sombras) é a HQ mais épica e pretensiosa da revista. Por esse motivo é a capa (arte de Mateus Santolouco) da mesma. Com 20 páginas e vários personagens, incluindo um poeta imortal, Satã e um anjo inseridos numa metrópole urbana contemporânea, o roteiro de Nando Alves promete. Vamos esperar que cumpra. A arte precisa e fotográfica de Eduardo Cardenas se ajusta bem a todos os ambientes da história. Uma pena o artificialismo típico de jovens ilustradores em relação a nudez feminina, onde a personagem Sara parece mais estar posando para uma foto do que realizando uma ação real. Mas enfim, isso passa.
A HQ de FC, ARMOLITHUS, de Matheus Moura e Rodrigo Lara lembra um pouco as antigas histórias da revista HEAVY METAL, onde soldados em roupas robóticas disparavam raios em alienígenas e transavam com belas mulheres semi-nuas. O cenário psicodélico e bizarro era o que interessava de fato, já que os roteiros nunca faziam muito sentido e o destino dos personagens raramente importava. O mesmo acontece aqui.
ZULU é um épico light misturando tribos africanas, reis bíblicos e monstros gregos bem conhecidos e inicia dizendo que essa história ocorre “antes das lendas”. Apesar do contrasenso, a narrativa tem uma pegada SAMURAI JACK que agrada. A boa sacada final do roteirista Gian Danton e a cartunesca e simpática arte de Will, que lembra muito o ilustrador Spacca, fecham a revista com dignidade.
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