Sobre a Arrogância do Bicho Homem - opinião



Reinaldo Azevedo, jornalista da Veja, escreveu um artigo chamando os ativistas que libertaram os cães beagles do Laboratório Royal de criminosos. Além disso, comentou que devemos nossa saúde, longevidade e em muitos casos, nossas vidas aos testes de animais. Isso pode ser verdade. Ou não.

De acordo com o Dr. Ray Greek, cuja entrevista linko aqui, os testes em animais não garantem nada. De acordo com suas pesquisas e um mero raciocínio lógico, sabemos que determinado remédio pode até funcionar bem para um grupo de pessoas, mas pode deixar um outro grupo pior ainda. Se a diferença genética entre um ser humano e outro é grande a ponto de o mesmo remédio não funcionar para um e outro, no caso de animais que possuem entre 2% e 5% de diferença genética dos seres humanos, os resultados efetivos desses medicamentos podem ser ainda mais díspares.

Reinaldo Azevedo questiona com deboche uma ativista que diz que já existem métodos para testar medicamentos sem uso de animais. Nessa entrevista, Ray Greek explica quais são os disponíveis no momento. Essa entrevista foi publicada 3 dias antes de Azevedo escrever sua coluna. Já que iria escrever sobre o assunto, ele deveria ler a revista na qual trabalha para ficar melhor informado.

Quando Greek menciona os bilhões de dólares que laboratórios recebem para realizar pesquisas em animais, o porquê da utilização e sacrifício de tantos animais cai na óbvia mas  auto-explicativa questão da ganância. Talvez testes virtuais e em humanos simplesmente gerem menos lucro. E como sabemos, acionistas não gostam de laboratórios que dão menos lucro que outros. Ética não é algo que faz parte da equação.



O texto de Azevedo, adequado a outros tempos e com algumas modificações sem alterar o tom e a ideologia, poderia ser lido assim (leia o texto dele antes de ler o que segue abaixo):

“Aquelas pessoas que invadiram a senzala, depredaram o engenho, destruíram os barris de cana e roubaram os escravos são criminosas. Apenas isso. A imprensa, mais uma vez, está fazendo outro-ladismo, como se, nesse caso, houvesse duas verdades, o bom senso no meio, equidistante das posições extremas. Trata-se de uma mentira, de uma falácia.”

“Que tempos estes, em que os covardes permitem que prosperem os idiotas. O sujeito que eventualmente está lendo este texto pronto a verter a baba hidrófoba, responda para si mesmo, não para mim: a) vai abrir mão de seus escravos para pagar brancos para fazerem seu trabalho?; b) vai abrir mão de legar uma herança de mão de obra escrava para os filhos que tem ou que um dia terá?; c) se e quando um ente querido depender completamente de escravos para sustentar sua família, vai tentar convencê-lo a libertar os negros?”

Ou

“Não sabem? Então parem de perder seu tempo e vão estudar! Essa ferramenta que você têm aí na mão não serve apenas para que expressem seus sentimentos, seus rá, rá, rá, seus kkkkk e outras glossolalias. Também serve ao estudo, à pesquisa, à reflexão. Há uma enorme diferença entre a mulher sair para as ruas exigindo direito ao voto e liberdade sexual e se realizar como mãe e  dona-de-casa. Não há um só país do mundo que não recorra a esse expediente.”

“Não é possível que homens sérios e que maridos que fazem um trabalho honesto vivam sob o signo da suspeição porque algumas malucas decidiram que não aceitam mais obedecer a eles. O promotor  Fulano de Tal, atenção!, abriu inquérito em dezembro de 1962 — há quase um ano — para apurar as denúncias de maus-tratos às esposas. Até agora, ele não chegou a nenhuma conclusão? O MP tem competência legal e recursos para recorrer a especialistas, que podem tirar as dúvidas dos promotores. Uma visita as casas teria bastado para demonstrar que tudo estava nos conformes. Mas quê…”    

Mudam os tempos e a cultura, mas alguns discursos não.





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